No dia 29 de setembro de 1988, uma semana antes da promulgação da atual Constituição, houve um raro atentado terrorista no Brasil, que resultou em uma morte e poderia ter causado uma tragédia de grandes proporções, capaz de mudar a história do País. O tratorista maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, sequestrou o Boeing 737-300, da Vasp, que voava de Porto Velho para o Rio, com escala em Belo Horizonte, pretendendo desvia-lo para Brasília e lança-lo sobre o Palácio do Planalto para matar o então presidente José Sarney e também os 97 passageiros e os sete tripulantes que iam a bordo.

O maior atentado terrorista da história recente do Brasil vai virar filme
HERÓI O piloto Fernando Murilo conseguiu fazer uma manobra de alto risco e pousar o avião em Goiânia (Crédito:Divulgação)

Nonato estava desesperado com a política econômica brasileira, a inflação galopante e os rumos do País, teve um dia de fúria e agiu como um lobo solitário. Armado com um revólver calibre 32, rendeu a tripulação do avião, invadiu a cabine, executou o co-piloto Salvador Evangelista e expôs de maneira enlouquecida um drama social enfrentado por muitos cidadãos brasileiros naquele momento. Não fosse a habilidade do comandante Fernando Murilo de Lima e Silva, que conseguiu iludir Nonato e realizou uma manobra extremamente arriscada, chamada tonneau, lançando o avião de bico numa queda em parafuso e derrubando o sequestrador, o desfecho do caso poderia ser pior.

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TRAIÇÃO O tratorista Raimundo Nonato agiu sozinho, movido pelo desespero (Crédito:Divulgação)

Agora esse atentado vai virar um filme de ação quase totalmente passado dentro de um avião, algo inédito no cinema nacional. A produção orçada em R$ 15 milhões e encabeçada pelo Estúdio Escarlate, de São Paulo, associado com a Star, braço de conteúdo adulto do grupo Disney, entra na fase de filmagem nas próximas semanas e envolveu a construção de uma aeronave dentro de um estúdio. A história também fornece um conteúdo emblemático do Brasil no final da década de 1980, quando a situação sócio-política e econômica aumentava a pobreza e a desigualdade, tornando possível o surgimento de um sujeito radical como Nonato.

O maior atentado terrorista da história recente do Brasil vai virar filme
DESFECHO O Boeing 737-300 pousou em Goiânia e o sequestrador foi baleado (Crédito:Divulgação)

“A Disney está se interessando muito pelas histórias originais de outros países e esse caso tem uma amplitude global”, afirma a produtora executiva e CEO do Estúdio Escarlate, Joana Henning. “Raimundo Nonato era um insano, um brasileiro desesperado que não tinha ficha criminal, mas se sentia traído pelo sistema e decidiu que iria matar o presidente”. O plano de Nonato, que era solteiro, sem filhos e estava desempregado, se assemelhava ao que aconteceu no 11 de setembro, nos Estados Unidos, mais de uma década depois. O tratorista conseguiu entrar armado na aeronave sem ser incomodado.

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PRODUÇÃO O Estúdio Escarlate, de Joana Henning, iniciou o projeto do filme em 2017 (Crédito:Divulgação)

O projeto do filme vem sendo desenvolvido desde 2017 pelo Escarlate e o roteiro foi estabelecido a partir de dezenas de entrevistas e pesquisas feitas nos últimos dez anos pelo coprodutor Constâncio Viana com pessoas que estavam na cena do sequestro, incluindo o piloto, tripulantes, militares e passageiros. A previsão era de filmar em 2020, mas a pandemia acabou adiando os planos. “A primeira coisa é fazer esse episódio e lançar luz sobre uma história esquecida”, diz o diretor Marcos Baldini. “É um filme que trata do momento histórico pós-ditadura e o sentimento de Nonato estava no inconsciente coletivo da população”. O sequestro disparou uma operação da Força Aérea Brasileira (FAB), que interceptou o voo e chegou a planejar sua derrubada. Nonato foi uma espécie de terrorista acidental que acabou sendo baleado e morto e Fernando Murilo foi um herói quase anônimo, que não teve sua atitude reconhecida e jamais recebeu um telefonema de agradecimento do ex-presidente, que teve a vida salva. O aviso do sequestro aconteceu quando o avião sobrevoava o Rio de Janeiro e acabou desviado para Brasília. No final, conseguiu pousar em Goiânia e foi cercado por policiais federais. Quando descia do avião, usando o comandante como escudo, Nonato levou um tiro de fuzil e morreu cinco dias depois. Terminava aí o maior atentado terrorista praticado depois da ditadura no Brasil.O maior atentado terrorista da história recente do Brasil vai virar filme