Uma revista digital cuja autoria é atribuída à Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, publicou, em 2010, um artigo intitulado “The ultimate mowing machine”, ou “A máquina de massacre definitiva”. No texto, o autor se refere a um carro tipo pick-up e dá a orientação de avançar com o veículo contra uma multidão para acabar com o máximo de vidas, em um ataque bárbaro e violento sob o subterfúgio da fé.

A tática se disseminou entre outros grupos e virou referência também para o Estado Islâmico, a mais ativa organização terrorista atualmente. O que tem acontecido na Europa de um ano para cá é consequência dessa cartilha: atentados em série em que um homem dirige um carro de grande porte, lança-o contra um grupo de pessoas e deixa várias vítimas.

Esse tipo de tragédia tem se repetido com maior frequência desde o ataque em Nice, em julho do ano passado. A partir de então, o mesmo aconteceu em Ohio, Berlim, Jerusalém, Londres e Estocolmo. Na capital britânica foram três vezes, a última delas na segunda-feira 19, contra um grupo de muçulmanos, como uma resposta aos ataques anteriores.

Um dia depois, esteve na iminência de acontecer em Paris, quando um homem dentro de um carro com explosivos foi morto pela polícia. É um crime que pode ser orquestrado rapidamente e muitas vezes dá pouca ou nenhuma evidência de que vai acontecer. Por isso mesmo é tão assustador.

PROTEÇÃO Segundo a primeira-ministra britânica Theresa May, o serviço de segurança inglês impediu cinco atos de violência no país (Crédito:HANNAH MCKAY)

Para Evan Jean Lawrence, pesquisadora da University of Central Lancashire, no Reino Unido, e especialista em terrorismo e segurança internacional, o fato de esse tipo de ataque estar acontecendo com tanta frequência tem a ver com a dificuldade das autoridades em rastreá-los. “Governos e policiais nunca serão capazes de regular quem pode comprar uma faca de cozinha ou ter um carro”, afirma.

De acordo com Evan, há pouco planejamento envolvido, o que dificulta que a polícia e os serviços de segurança impeçam os ataques. Não há trilha de dinheiro a seguir, não há uma série de comunicações a serem interceptadas sobre como conduzir algo assim.

O terrorista entra no carro, encontra um lugar com muitos pedestres e lança o veículo neles. Sobre o último ataque em Londres, um cidadão do País de Gales atropelou muçulmanos que estavam próximos a uma mesquita, matou uma pessoa e deixou dez feridas, duas em estado grave. Foi uma reação criminosa aos atentados que o país vem sofrendo. Na opinião de Evan, a tendência é que essa corrente de ódio cresça. “Ouso dizer que a situação vai piorar, já que estamos começando a ver um aumento na extrema direita que reage violentamente ao terrorismo islâmico. É exatamente o que os terroristas querem.”

NOVAS TÁTICAS

A primeira-ministra britânica, Theresa May, considerou o ataque uma “tentativa doentia de destruir a liberdade religiosa”. Afirmou ainda que, apesar do número de crimes estar aumentando, nos últimos meses os serviços de segurança conseguiram evitar cinco atentados.

Mas será preciso criar novas táticas, mais eficientes, para evitar que o terror continue se espalhando. Gigante da internet no mundo, o Google tem se esforçado para tentar brecar a disseminação de ideologias terroristas (leia mais no quadro ao lado). A solução deve passar por um monitoramento online mais acirrado? Como fazer isso sem ferir o direito à privacidade e às liberdades individuais? Enquanto se esboçam tentativas de responder a essas perguntas, o terrorismo acelera.

INSEGURANÇA Tentativa de atentado em Paris foi barrada pela polícia. Criminoso dirigia carro com explosivos (Crédito:THOMAS SAMSON)

A difícil batalha contra o extremismo na internet

No domingo 18, o Google anunciou quatro medidas para evitar a disseminação de vídeos relacionados com ideias e práticas terroristas na internet. A empresa afirmou que aumentará o uso da tecnologia e terá “posição mais dura” com vídeos que, apesar de não violarem claramente suas políticas, tiverem discursos religiosos ou supremacistas muito inflamados.

Mas a nova iniciativa, bem como a postura que vem sendo adotada até agora para combater a disseminação do terrorismo online, parece frágil diante do tamanho do problema. Grupos radicais já têm consolidada uma intrincada estrutura de propagação de suas ideias pela internet. É possível encontrar uma infinidade de informações a partir de uma busca simples pelo próprio Google, inclusive guias de como cometer atentados.

Já as redes sociais servem para propagar notícias e cooptar novos seguidores. Se medidas mais drásticas não forem tomadas, até mesmo a maior gigante do mundo virtual vai parecer pequena diante da atual máquina de propaganda online do terror.