Quando cursava Farmácia na Universidade de Alfenas, em Minas Gerais, Cesar Bravo aguardava ansiosamente pelas aulas de anatomia. Ele não estava de olho no conhecimento que levaria para a vida profissional, mas na oportunidade de saciar um desejo da adolescência: ficar próximo de caveiras e órgãos humanos. “O que mais me chamava atenção era ver o que eu só conhecia em filmes e livros: corpos no formol em diferentes estados de preservação. Me pegava pensando em quem eram aquelas pessoas”, lembra. A carreira como farmacêutico durou pouco. Hoje, Cesar ganha vida como escritor e é um dos expoentes do “horror brasileiro”, estética literária influenciada pelo filmes de terror dos anos 1980 e 1990.

“Cresci com as histórias de Edgar Allan Poe e Stephen King”, afirma Cesar, que é autor de três livros: Ultra Carnem, VHS: Verdadeiras Histórias de Sangue e DVD: Devoção Verdadeira a D., finalista do Prêmio Jabuti em 2021. Questionado se há uma vertente do estilo próprio dos brasileiros, é categórico: “o medo é universal”. Para o autor, porém, há elementos que permitem identificar os escritores brasileiros. “Assassinato, sangue, vida após a morte, isso sempre provoca pavor, não importa a origem de quem escreve. O que muda é a sociedade. O Brasil tem um sincretismo religioso muito forte, há muitos católicos e espíritas. E tem a política, o jeitinho brasileiro. Dá para criar muita coisa em cima disso.”

Cesar é autor da Darkside, editora focada nesse segmento. Suas edições de luxo, com capa dura e ilustrações, são divididas em onze marcas, prova de que o mercado brasileiro é consolidado. Há livros para todos os gostos: do infantil (selo Caveirinha) aos romances góticos (Dark Love). Essa geração também já descobriu o poder do audiovisual. Raphael Montes, publicado na França, Espanha e Polônia, é co-autor com Ilana Casoy do roteiro de Bom Dia, Verônica, série que se tornou um sucesso na Netflix. Antes de ir para o streaming, a obra havia sido lançada em livro sob o pseudônimo de “Andrea Killmore”. “Se você pensa que vai resolver mistérios lendo Andrea Killmore, prepare-se: você vai colecioná-los”, elogiou a novelista Glória Perez. A dupla assinou ainda o roteiro dos filmes A Menina que Matou os Pais, sobre Suzane von Richtofen. O Brasil é um ótimo celeiro para histórias de terror.