O terremoto do movimento #MeToo continua no cinema francês, com novas acusações de abuso sexual contra os diretores Benoît Jacquot e Jacques Doillon, considerados herdeiros da Nouvelle Vague.

A atriz Judith Godrèche, hoje com 51 anos, acusa Jacquot, de 77, de estupro de vulnerável e de tê-la submetido a um relacionamento abusivo após eles se conhecerem, quando ela iniciava sua carreira. Juntos, eles fizeram três filmes: “Les mendiants” (1986), “La Désenchantée” (1990) e “Emma Zunz” (1992).

Godrèche foi selecionada aos 14 anos para participar do filme “Les mendiants”, rodado em Portugal, no qual estava sem nenhum adulto para acompanhá-la. Rapidamente, iniciou uma relação com o cineasta, que durou seis anos e terminou no início da década de 1990.

A atriz detalhou ao jornal Le Monde o relacionamento e descreveu um homem obcecado por adolescentes e dominador.

Jacquot negou ter abusado de alguma atriz em sua longa carreira e apenas disse em entrevistas que é um homem de caráter temperamental.

Godréche foi viver com ele aos 15 anos e, anos depois, em várias entrevistas, admitiu que tinha sido subjugada pela personalidade do diretor. Era “inteligente, sedutor… Estava sob uma possessão extremamente inspiradora”, declarou, em 2010.

Nos últimos meses, as acusações de Godrèche se intensificaram nas redes sociais, como aconteceu com outras denúncias que surgem regularmente no cinema e no teatro, a grande maioria feita por jovens atrizes ou trabalhadores do setor contra diretores (Luc Besson, Nicolas Bedos, etc.) ou atores (Gérard Depardieu).

Godrèche apresentou uma queixa formal na última terça-feira (6). No entanto, segundo fontes judiciais, essa acusação pode ter prescrito, devido ao tempo decorrido desde o incidente.

Nesta quinta-feira (8), a atriz ampliou suas denúncias, agora contra o diretor Jacques Doillon, atualmente com 79 anos. Com ele, filmou “La fille de 15 ans”, lançado em 1989, quando tinha 15 anos e ainda era parceira de Benoît Jacquot.

A atriz Jane Birkin era companheira de Jacques Doillon e, segundo contou Godrèche à emissora France Inter, essa estrela assistiu a uma cena de suposto abuso. Doillon teria pedido a Godréche que tirasse o suéter para encenar em seguida uma cena sexual com ele.

Uma fonte próxima da investigação explicou à AFP que o Ministério Público de Paris investiga as denúncias contra Jacquot e Doillon.

– Cinema autoral –

Benoît Jacquot é autor de uma extensa filmografia e já dirigiu grandes nomes do cinema francês, como Isabelle Huppert (“Eva”), Charlotte Gainsbourg e Léa Seydoux (“Azul é a Cor Mais Quente”). Em 2010, trabalhou com outra jovem atriz, Isild Le Besco (“No Fundo da Floresta”), que também descreveu no jornal Le Monde uma relação possessiva com o diretor.

Jacques Doillon, por sua vez, tem 30 filmes em seu currículo, como “Rodin” (2017) e “Ponette” (1996). É pai de duas atrizes, Lou e Lola Doillon, e, em 27 de março, estreia um novo filme seu sobre uma estudante do ensino fundamental, intitulado “CE2”. Sua advogada, Marie Dosé, declarou à AFP que o diretor rejeita “veementemente” as acusações e que “espera poder se explicar em tribunal o mais rapidamente possível”.

Tanto Jacquot quanto Doillon são conhecidos por cultivarem narrativas que abordam temas como paixão amorosa ou intelectual.

Outro representante da mesma geração que esteve no centro de polêmicas foi Philippe Garrel, 75 anos. Há alguns meses, este diretor foi acusado por cinco atrizes de ter tentado beijá-las e realizado investidas sexuais durante reuniões profissionais. O diretor minimizou esses episódios e pediu desculpas.

O caso mais notório é o do ator Gérard Depardieu, 75 anos, que foi denunciado por diversas mulheres e que enfrenta uma ação formal por estupro desde o fim de 2020.

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