O Equador concluiu uma jornada tranquila de votação na tarde deste domingo (9) e começou a contagem de votos para determinar quem será o futuro presidente de um país mergulhado na violência do narcotráfico.
A primeira pesquisa de boca de urna apontou que o atual presidente Daniel Noboa obteria pouco mais de 50% dos votos, enquanto sua adversária de esquerda Luisa González ficaria com 42%.
Os equatorianos esperam que o próximo governo possa recuperar um país em crise econômica, dividido e assolado pela guerra entre cartéis que disputam o controle do tráfico de cocaína.
Há necessidade de “segurança, saúde, educação, tudo está pior”, disse Richard Calle, um engenheiro mecânico de 44 anos em Quito, a capital rodeada de vulcões e situada 2.850 metros acima do nível do mar.
À sombra de um assassinato em 2023, as campanhas ocorreram sob fortes medidas de segurança e propostas focadas em coibir a violência, que registra uma taxa de 38 homicídios por 100 mil habitantes.
As fronteiras estão fechadas até segunda-feira, enquanto cerca de 100 mil integrantes da força pública vigiam os locais de votação.
“Recebi ameaças […] Há relatórios de inteligência que dizem que há riscos, que querem atentar contra a minha vida”, disse à AFP a candidata González, herdeira política do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017).
Durante o dia de votação, um policial morreu e outro ficou ferido em um “ataque armado” na cidade portuária de Guayaquil, segundo a polícia.
O voto no Equador é obrigatório e os eleitores vão escolher um presidente e um vice-presidente entre 16 candidatos, 151 membros da assembleia e cinco parlamentares andinos.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) começou a lento apuração por volta das 17h locais (19h em Brasília), mas não há informação oficial sobre o tempo que levará até a divulgação dos primeiros resultados.
A jornada “se desenvolveu com absoluta normalidade, prevalecendo a ordem, a segurança e o ambiente pacífico”, e com uma participação de 83,38% do eleitorado, declarou Diana Atamait, presidente do CNE.
“Temos fé e esperança de que mude” o país, disse Evelyn Criollo, administradora de 30 anos.
Noboa, de 37 anos, e González, de 47, compareceram cedo às urnas em seus redutos no litoral: o presidente votou acompanhado de sua família no balneário de Olón, e a advogada o fez na localidade de Canuto.
Neste novo duelo eleitoral, ela busca vingança e ele a reeleição. Os candidatos se enfrentaram no pleito de 2023, no qual o empresário multimilionário se tornou um dos presidentes mais jovens do mundo.
Desta vez, González aspira ser a primeira mulher presidente eleita na história do país.
Herdeiro de um magnata da banana, Noboa foi uma surpresa em 2023 quando foi eleito, apesar de sua limitada experiência política.
Ele venceu a eleição para completar até maio o mandato de Guillermo Lasso, que dissolveu o Congresso e convocou eleições antecipadas para impedir que o Legislativo o destituísse em um processo de impeachment por corrupção.
Muito ativo nas redes sociais, Noboa se tornou popular como um governante linha-dura contra o tráfico de drogas.
“O Equador já mudou e quer continuar mudando, quer consolidar sua vitória”, disse o presidente.
Sua adversária, Luisa González, possui uma agenda que promete mais segurança “com justiça social” e respeito aos direitos humanos.
“Eles são o medo, nós somos a esperança”, disse a advogada ao depositar seu voto.
Um segundo turno está marcado para 13 de abril se nenhum dos candidatos conseguir obter pelo menos 40% dos votos e uma diferença de dez pontos sobre o adversário mais próximo.
Especialistas questionam os planos escassos dos candidatos para enfrentar a pior crise em meio século, com campanhas sofrendo com a desinformação nas redes sociais e o uso cada vez mais sofisticado da inteligência artificial.
“É um reality show, uma memecracia […] e a única coisa que isso consegue é fazer com que as pessoas se desliguem da política […] é uma sociedade que desistiu”, diz o analista político Leonardo Laso.
Noboa termina um mandato breve mas vertiginoso: cortes de eletricidade devido a uma seca histórica, disputas diplomáticas com o México e alegações de abusos por parte das forças de segurança em sua ofensiva contra o crime.
Quatro crianças foram assassinadas e tiveram seus corpos carbonizados em Guayaquil (sudoeste), em um caso que envolveu 16 militares.
Os equatorianos sentem os efeitos de um Estado endividado, com uma taxa de pobreza de 28% e concentrado no financiamento da dispendiosa guerra contra o tráfico de drogas.
Para o analista Laso, essas operações espetaculares projetam uma imagem do país que afugenta “qualquer possibilidade de investimento” e gera “um clima adverso à criação de emprego”.
A dívida pública aproxima-se de 57% do PIB, segundo o FMI.
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