O Brasil caminha para o mais tenso processo eleitoral desde 1989, quando foram restabelecidas às eleições diretas para a Presidência da República. O clima eleitoral que sempre foi marcado pela esperança da mudança ou da continuidade democrática (como em 1998, 2006 e 2014) se transformou em um ambiente marcado pelo medo, pelo temor de que o livre debate das ideias seja substituído pela força, pela violência.

As eleições de 2018 levaram às Assembleias Legislativas, ao Congresso Nacional e aos executivos estaduais – este em menor conta –, personagens que pouco tinham relação com a política no sentido mais amplo. A renovação, na maioria dos casos, foi desastrosa. O ataque ao que foi chamado de velha política produziu uma onda extremista que adentrou às instituições moldadas pela Constituição de 1988 e envenenou o funcionamento do Estado democrático de Direito.

Pautas reacionárias que até então estavam restritas a grupos extremistas – algo até considerados folclóricos – acabaram assumindo o primeiro plano da cena política. Ocuparam durante meses e meses um tempo precioso que poderia ter sido destinado à discussão e busca de solução dos graves problemas nacionais.

Os contínuos ataques de Bolsonaro ao Estado Democrático de Direito passaram dos exageros retóricos para a prática antirrepublicana

Desde o processo de redemocratização e mais especialmente na última década do século XX, o Brasil teve papel relevante nos grandes temas internacionais. Chegou a sediar a Rio-92, a maior reunião de chefes de Estado da história até aquela data. Mas – e a tragédia maior de 2018 foi a eleição de um miliciano à Presidência da República – o voto raivoso do eleitor indignado especialmente pelos escândalos de corrupção acabou produzindo, sem o desejar, a mais grave crise da história republicana.
As sucessivas ameaças ao processo eleitoral alcançaram um ponto que até coloca em risco as eleições de outubro, algo que seria inimaginável um lustro atrás. Os contínuos ataques ao Estado democrático de Direito passaram dos exageros retóricos para a prática antirrepublicana.

Jair Bolsonaro sabe que será derrotado, assim como foi nas eleições municipais de 2020. Perdeu nos principais colégios eleitorais. A partir daí passou a intensificar as ações antidemocráticas pois entendeu que só permanecerá no poder se romper com a institucionalidade. Desta forma, atos como o de Sete de setembro de 2021 ou o indulto de 21 de abril deste ano não passam de momentos do processo de golpe de Estado que está em gestação. É a única alternativa para o extremismo bolsonarista se manter a qualquer custo no poder.