Após dois choques inesperados no mundo, a pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, o diretor para o Departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central, afirmou que um terceiro se avizinha, mas desta vez esperado. É a alta de juros no mundo pelos bancos centrais, para lidar com a persistente inflação em vários países, que tende a valorizar o dólar e enfraquecer as moedas de mercados emergentes.

E os juros em alta, especialmente nos Estados Unidos, historicamente afetam a América Latina de forma importante. “Os ventos estão começando a mudar de direção”, afirmou Ilan, destacando que todas as vezes que há aperto das condições monetárias no mundo, a região sofre. Os fluxos de capital que viriam para a América Latina, disse o executivo, tendem a cair, inclusive com fuga de capital.

“O aperto das condições financeiras mundiais tende a valorizar o dólar e reverter os fluxos de capital”, disse o diretor do FMI. Nesse ambiente, de crescimento econômico mais fraco e queda dos preços das commodities, há uma piora dos termos de troca para os países da América Latina, ou seja, o comércio externo fica mais desfavorável para os exportadores de produtos naturais e commodities.

Historicamente, empréstimos e captações de governos e empresas tendem a ficar mais caros toda vez que os juros sobem nos EUA, afirmou Ilan. Os países costumam perder 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

“O aperto monetário nos EUA vai tirar parte do PIB da América Latina”, afirmou o diretor do FMI em palestra no Febraban Tech, evento que reúne bancos e empresas de tecnologia esta semana em São Paulo.