O governo canadense confirmou, nesta quarta-feira (19), a prisão de um terceiro cidadão canadense na China, quase três semanas depois da detenção, em Vancouver, de uma diretora do grupo chinês Huawei que enfureceu Pequim.

Mas o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, avaliou que a prisão não parece estar ligada aos dois casos precedentes, envolvendo um ex-diplomata e um empresário que supostamente ameaçaram a segurança nacional da China.

“Estamos estudando os detalhes, mas esta (prisão) mais recente não parece se ajustar ao padrão estabelecido para as outras duas”, disse Trudeau em coletiva.

A porta-voz Maegan Graveline havia declarado que a chancelaria canadense estava “ciente da detenção de um cidadão canadense na China”, confirmando informações publicadas pelo jornal “National Post”.

O jornal não divulgou a identidade da pessoa detida na China, mas apontou que não se trata, aparentemente, nem de um diplomata, nem de um executivo instalado nesse país.

O governo Trudeau confirmou que “autoridades consulares estavam prestando assistência à família” deste terceiro cidadão canadense, mas que, em razão das regras de respeito à privacidade, “nenhuma outra informação será revelada”.

Em entrevista coletiva, uma porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores disse não estar a par da informação. A embaixada do Canadá em Pequim não respondeu as perguntas da AFP.

Esta é a terceira detenção, depois da de outros dois canadenses no início da semana passada: o ex-diplomata Michael Kovrig, funcionário do International Crisis Group (ICG), e Michael Spavor, um consultor com vínculos com a Coreia do Norte.

O embaixador do Canadá em Pequim conseguiu se reunir com ambos, acusados de serem uma “ameaça para a segurança nacional”.

“Vamos defender nossos cidadãos que estão detidos, vamos tentar saber a razão pela qual foram presos, vamos trabalhar com a China para mostrar que isso não é aceitável”, declarou na semana passada o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.

Embora não relacione as detenções entre si, a China segue indignada com o Canadá desde a prisão, no início de dezembro, da diretora financeira do gigante tecnológico Huawei, Meng Wanzhou, a pedido da Justiça americana.

Filha do fundador da gigante de telecomunicações, Meng foi solta sob fiança na semana passada à espera da realização de uma audiência sobre sua extradição para os Estados Unidos. O governo americano a acusa de cumplicidade em fraude para burlar as sanções americanas contra o Irã.

Pequim ameaçou Ottawa com “consequências graves”, se Meng não fosse solta de imediato. A Justiça canadense a colocou em prisão domiciliar em Vancouver, onde possui duas luxuosas casas.

Esta crise que poderia penalizar as empresas canadenses sediadas na China ocorre quando muitos países ocidentais se recusam a permitir que a Huawei implante sua rede de telefone 5G por medo de espionagem.

Apesar de Ottawa assegurar que não houve intervenção política por trás da prisão de Meng Wanzhou, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que interviria neste caso, se permitisse a conclusão de um bom acordo comercial com a China, com quem acaba de concluir uma trégua.

Em entrevista à Radio-Canada na terça-feira à noite, Trudeau disse que quer “acertar isso, sem colocar mais pressão política em uma situação que não deveria ser política”.