A decisão do ministro Edson Fachin de devolver os direitos políticos a Lula colocou o País novamente refém da polarização entre dois extremos, que nos levou aos piores momentos da nossa história recente: à crise econômica, fiscal e ética provocada pelo PT e ao descalabro da incompetência, ignorância e insanidade de Bolsonaro. O Brasil está fadado a repetir esse equívoco em 2022 ou será possível viabilizar um nome da terceira via para nos libertar da fatalidade de continuarmos a ser governados por líderes de duas seitas, o lulismo e o bolsonarismo? Na centro-direita e centro-esquerda, o País tem nomes já postos como opções para mudar esse jogo: Moro, Huck, Doria, Mandetta ou Ciro Gomes, por exemplo, com quase 50% do eleitorado. O problema é juntá-los no mesmo barco.

Reviravolta

O centro esperava chegar ao segundo turno. Lula alterou o quadro. Doria já admite disputar a reeleição, embora sua prioridade seja a presidência. Moro ainda vê espaço para seguir com seu projeto anticorrupção, enquanto Huck continua dividido entre a TV e a candidatura. Voltará ao jogo quem unir o combate à corrupção do lulismo
e a recuperação do caos bolsonarista.

Fator Ciro

Os partidos, como PSDB, DEM, MDB, Cidadania e Podemos, que conversam informalmente, teriam que se unir agora. O fiel da balança desse jogo pode ser Ciro, que já disse querer tirar o PT do segundo turno e que o presidente é “genocida”. A questão é que ele não se bica com Doria e com Huck. A desunião do centro em 2018 levou ao quadro atual.

Pressão do Centrão

Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

O caos na saúde vem causando grande desgaste do governo junto à sua base aliada. O deputado Marcelo Ramos (foto), vice-presidente da Câmara, diz que o novo ministro, Marcelo Queiroga, não pode continuar errando, como fazia Pazuello. “Não podemos assistir passivamente a lentidão na vacinação.” Já o deputado Fausto Pinato (PP-SP) é categórico: “Faço parte do bloco de apoio, mas não sou marionete de ninguém”.

Retrato falado

“Quanto mais armas, mais mortes” (Crédito: Leo Pinheiro)

A cientista política Ilona Szabó, diretora-executiva do Instituto Igarapé, disse à ISTOÉ que a política do governo para a liberação da compra de armas pela população aumenta a insegurança e a violência. Afinal, quanto mais armas, mais mortes. “O sonho do presidente da República e do clã Bolsonaro é criar suas milícias particulares.” Para ela, o governo sabota a agenda da segurança e o necessário debate sobre o desarmamento. “Nossa imagem no exterior está indo para o lixo.”

A volta da inflação

Que a inflação está de volta até o ministro Paulo Guedes admite. Apenas em fevereiro, o IPCA atingiu 0,86%, contra 0,25% de janeiro. Em 12 meses, o índice chegou a 5,2%, perto do teto de 5,25% fixado pelo BC. O pior tem sido os preços dos alimentos, que em um ano subiram, em média, 15% – três vezes mais do que a inflação oficial. Só os cereais (arroz e feijão, por exemplo) aumentaram 57,83%. A alta de preços está sendo puxada pelos derivados de petróleo, que foram reajustados seis vezes este ano (53,76%). Um botijão de gás já passa de R$ 100. Para os mais de 40 milhões que vivem na extrema pobreza, isso significa fome e mais sofrimento em meio à pandemia.

Auxílio

Insensível ao drama, o governo demora na liberação do auxílio emergencial. O Congresso aprovou a medida no início do mês, mas a primeira parcela só deverá ser paga em abril, com valores médios de R$ 250, o que Bolsonaro e os parlamentares gastam em um único jantar sem vinho e com o uso de dinheiro público.

Big brother

Vinícius Loures/Câmara dos Deputados
O deputado Mário Heringer (foto) apresentou projeto à Câmara na terça-feira, 16, que passa a exigir que todas as reuniões oficiais de Bolsonaro com seus ministros sejam gravadas em vídeo com áudio e depois sejam liberadas ao público, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). A exceção será para reuniões “ultrassecretas” ou “reservadas”.

Sigilo

Já o Supremo Tribunal Federal, a Câmara e o Senado poderão requerer as cópias, independentemente das restrições alegadas pelo governo. Eventual sigilo poderá ser derrubado pelo STF. Segundo Heringer, “nessas reuniões são tratados temas de interesse coletivo”, embora a famigerada reunião ministerial de 22 de abril de 2020 não tenha mostrado isso.

Toma lá dá cá

Tasso Jereissati, senador pelo PSDB-CE (Crédito:Pedro França)

O Brasil está no epicentro da pandemia no mundo, com mais de 2 mil mortes diárias. Por que chegamos a isso?
O presidente menosprezou o coronavírus, fez aglomerações, não comprou vacina na hora certa e não coordenou qualquer ação de combate à pandemia. As mortes não podem ser esquecidas. Isso é imperdoável.

Bolsonaro é responsável pela tragédia?
Eu chamava sua atuação na pandemia de desastrosa. Agora, chamo de criminosa.

O senhor defende a criação da CPI da Covid mesmo com a saída de Pazuello do cargo?
A CPI é essencial. Com os depoentes falando sob juramento, teremos condições de esclarecer os fatos e responsabilizar aqueles que por ação ou omissão contribuíram para essa tragédia.

Volta por cima

Mauro Pimentel / AFP

Há males que vêm para o bem, já dizia o ditado. É o que está acontecendo com Roberto Castello Branco, que foi demitido por Bolsonaro da presidência da Petrobras. Ele será indicado para o Conselho de Administração da Vale e pode até disputar a presidência da empresa, uma das maiores do setor privado.

Rápidas

* Depois de ter tripudiado a “vacina chinesa do Doria”, Bolsonaro teve que engolir a seco o fato de sua mãe, Olinda, de 94 anos, ter sido imunizada com duas doses da Coronavac, produzida pelo Butantan, do governo de São Paulo em parceria com os chineses da Sinovac.

* Já o ex-presidente Lula até elogiou o Butantan ao receber a primeira dose da Coronavac, no sábado, 13, em São Bernardo do Campo: “Era exatamente essa que eu queria tomar”. Em dezembro, ele contraiu Covid, em Cuba.

* Enquanto alguns se imunizam, outros não têm a mesma sorte. Os senadores Major Olímpio, Alessandro Vieira e Lasier Martins estão internados após contraírem Covid-19. Olímpio está na UTI de um hospital de São Paulo.

* Em função de tantos parlamentares infectados, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), assinou um ato proibindo a entrada de visitantes na Casa enquanto durar o lockdown estabelecido pelo governo do DF.