As tensões geopolíticas e uma inflamada retórica entre Irã e israel, ou Arábia Saudita, fazem temer uma escalada no Oriente Médio para além do conflito por procuração travado entre essas potências regionais na Síria – avaliam especialistas ouvidos pela AFP.

“Nós não permitiremos o estabelecimento do Irã na Síria, qualquer que seja o preço a pagar”, advertiu este mês o ministro israelense da Defesa, Avigdor Lieberman, após um ataque aéreo contra uma base militar na Síria, no qual pelo menos sete iranianos morreram.

Israel não reivindicou esse ataque, o primeiro que teve posições do Irã na Síria diretamente como alvo. Mas a ação leva a temer uma extensão do conflito para além das fronteiras sírias.

O Estado hebreu considera o Irã seu principal inimigo e o acusa de buscar se dotar de armas atômicas. Teerã, por sua vez, sequer reconhece a existência de Israel.

Já Riad vê o Irã como um rival, o qual acusa de querer dominar a região. E analistas evocaram uma possível aproximação da Arábia Saudita com Israel, dois países aliados dos Estados Unidos.

Nesse contexto de extrema animosidade, o International Crisis Group (ICG) destaca, em um relatório, visões antagonistas “que o Irã e seus adversários mantêm em uma espiral de confrontos por procuração que destrói o Oriente Médio”.

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O apoio do Irã a milícias no Iraque, na Síria e no Líbano sinalizaria para os críticos da República Islâmica que ela busca dominar a região e reunir forças para atacar Israel.

– Acusações recíprocas –

O ICG aponta que o Irã vê o Oriente Médio como “uma região dominada por potências dotadas de capacidades militares superiores” e que Teerã se lançou no conflito sírio apenas por medo de perder um de seus raros aliados e de ser cercada por forças “jihadistas”.

Para muitos iranianos, a ideia de que seu país seja a única força desestabilizadora da região – como repetem Washington, Israel e Riad – é difícil de “comprar”.

“Não é o Irã que mantém primeiros-ministros estrangeiros detidos”, alfineta o professor da Universidade de Teerã Mohammad Marandi, em alusão ao premiê libanês, Saad Hariri, depois que Riad foi acusada de tê-lo forçado a anunciar sua renúncia e de tê-lo retido contra sua vontade.

No Iêmen, as autoridades sauditas “impõem há três anos a fome e a guerra”, acrescentou Mabandi em conversa com a AFP.

Mabandi se refere aos bombardeios aéreos realizados desde 2015 por uma coalizão árabe liderada por Riad ao lado do governo em sua luta contra os rebeldes huthis, os quais Teerã diz apoiar – mas não militarmente.

A posição do reino saudita em relação ao Irã pode parecer contraditória. Em entrevista à rede de televisão americana CBS, em março passado, ao apontar o Irã xiita como aquele que busca o controle de toda região, o príncipe herdeiro Mohammed ben Salman declarou que o Exército e a economia iranianos eram amplamente inferiores aos da monarquia sunita.

O Irã também tem suas contradições. O aiatolá Ali Khamenei chegou a declarar que Israel não existirá mais daqui a 25 anos, mas, para Marandi, não se trata de uma ameaça militar contra o Estado hebreu.

“Apesar de toda desinformação propagada pela imprensa ocidental, o Irã nunca ameaçou entrar em conflito” com Israel, afirmou.

“O que ameaça Israel não tem nada a ver com a potência militar iraniana, mas com o fato de (Israel) ser cada vez mais percebido como ilegítimo por vários de seus amigos estrangeiros”, alegou o especialista.


Já o ex-embaixador de Israel na ONU, Dore Gold, denuncia “o movimento ideológico muito agressivo” da República Islâmica.

O Irã “construiu bases na Síria para tropas terrestres”, apontou.

E, “se somarmos a presença de seu aliado, a milícia xiita libanesa do Hezbollah, isso representa uma ameaça direta (…) para Israel”, completou.

As posições dos atores envolvidos parecem cada vez mais difíceis de serem conciliadas, já que Irã não tem relações diplomáticas nem com Israel, nem com a Arábia Saudita, depois que Riad e Teerã romperam seus laços em 2016.

O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, convoca, com frequência, um “diálogo regional” que permita abordar “todos os problemas” do Oriente Médio. Os adversários do Irã veem nesses apelos, porém, apenas a prova da ambiguidade de um poder que eles acusam de cumplicidade com os crimes cometidos na Síria.

Para apaziguar a situação, sugere o ICG, “seria necessário que os vizinhos do Irã (e os Estados Unidos) dialogassem de maneira sistemática com Teerã sobre as questões regionais, como o futuro do Iêmen, da Síria, ou do Iraque”.

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