Tensão em Terra Indígena do cacique Raoni após invasão de homens armados

Tensão em Terra Indígena do cacique Raoni após invasão de homens armados

Dois homens armados invadiram na noite de segunda-feira a Aldeia Piaraçu, do cacique Raoni Metuktire, e abriram fogo na comunidade sem deixar feridos, denunciou nesta terça-feira (25) o Instituto Raoni.

“Os indivíduos efetuaram 29 disparos e invadiram a terra indígena Capoto/Jarina, seguindo até a aldeia Piaraçu, colocando em risco a vida dos 327 Kayapó que lá vivem”, detalhou o comunicado divulgado pelo Instituto.

A aldeia Piaraçu, vizinha ao território Xingu, fica no estado do Mato Grosso.

Segundo a denúncia, os homens “destruíram a barreira sanitária construída pelos próprios indígenas para manter o isolamento social dos 2.423 Mebengokrê nesse período de pandemia” do coronavírus.

As lideranças indígenas da aldeia chamaram a polícia, fizeram um Boletim de Ocorrência e anunciaram que estão “mantendo distância da entrada do território para que não sejam surpreendidos por um novo ataque”.

O cacique Raoni, que tem cerca de 90 anos, foi internado em julho com úlcera gástrica, infecção intestinal e anemia. Ele recebeu alta há um mês, quando voltou para sua aldeia.

Conhecido por seus cocares de penas coloridas e pelo grande disco inserido em seu lábio inferior, Raoni viajou o mundo nas últimas três décadas para conscientizar a comunidade internacional sobre a ameaça de destruição da Amazônia.

Em janeiro, ele recebeu dezenas de lideranças indígenas em Piaraçu para discutir estratégias de proteção de suas terras e da Amazônia, diante da ofensiva do presidente Jair Bolsonaro, a favor do garimpo e da exploração energética na maior floresta tropical do planeta.

Os indígenas alertam sobre o avanço de atividades ilegais em suas terras, que causam danos ambientais e colocam em risco as comunidades tradicionais.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) contabilizou nove indígenas mortos em conflitos rurais no último ano, o maior número em ao menos uma década.

Paralelamente, os indígenas também enfrentam a propagação do novo coronavírus, que até hoje já deixou mais de 27 mil deles infectados e 717 mortos, em sua maioria na Amazônia.

No início de agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) ratificou uma medida cautelar que obriga o governo federal a adotar medidas para conter a disseminação do novo coronavírus entre as populações indígenas.

Na véspera do julgamento, o fotógrafo Sebastião Salgado solicitou aos onze magistrados do STF que tomassem providências a respeito.

“Corre-se o risco de transmitir o coronavírus aos indígenas e viver uma catástrofe. Eu chamo isto de um genocídio, que é a eliminação de uma etnia. Acho que o governo de [Jair] Bolsonaro se dirige a isso porque sua posição desde que chegou ao poder é 100% contrária aos indígenas”, disse Salgado.