A tensão aumentou nesta quinta-feira (10) no território francês da Nova Caledônia, onde a polícia abriu fogo durante a operação para evacuar uma usina de níquel da empresa brasileira Vale, cuja venda provocou uma onda de protestos dos independentistas e dos caciques kanaks.
A violência aumentou neste arquipélago francês do Pacífico desde que a Vale anunciou, na quarta-feira (9), a venda da usina de níquel a um consórcio neocaledônio e internacional, que inclui a empresa Trafigura, que comercializa matérias-primas.
O coletivo “Usine du sud: usine pays” e o fórum de negociação autóctone (ICAN), com apoio dos independentistas da FLNKS (Frente de Libertação Nacional Socialista Kanak), são “totalmente contrários” a este projeto, o qual, segundo eles, “confirma o domínio das multinacionais sobre a riqueza do país”.
A crise acontece no momento em que o processo de descolonização do Acordo de Noumea (1998) está perto da conclusão.
Em 4 de outubro, os não separatistas venceram por pequena margem (53,3%) o segundo referendo sobre a independência da França. Uma terceira votação acontecerá em 2022.
A usina foi colocada sob proteção das forças de segurança nesta quinta-feira, e os funcionários foram retirados do local após “várias tentativas de invasão”, informou o Alto Comissariado da República deste arquipélago francês do Pacífico.
“As forças de segurança tiveram que usar armas de fogo para afastar duas caminhonetes que avançavam contra os policiais. Atos de degradação voltaram a ser cometidos e um edifício administrativo foi incendiado”, completou a instituição que representa o Estado francês no território.
Ninguém ficou ferido, e a usina metalúrgica de cobalto e níquel, que utiliza um processo de tratamento com ácido sulfúrico, “está sob poder das forças de segurança desde a tarde”, afirmou a mesma fonte.
De acordo com o canal de televisão Nouvelle-Calédonie la 1ére, quase 300 funcionários foram retirados da usina “por precaução”.
Em Paris, o governo francês acompanha de perto a situação.
O ministro de Ultramar, Sébastien Lecornu, que se reuniu nesta quinta-feira por videoconferência com os principais políticos da Nova Caledônia para falar sobre a crise, fez um apelo por “calma” no Twitter e condenou com veemência “as violentas tentativas de invasão”.
– Voos suspensos –
O alto comissário da Nova Caledônia, Laurent Prévost, também condenou de” maneira enérgica os atos irresponsáveis”, assim como Sonia Backés (anti-independentista), presidente da província do sul, que denunciou “manobras inconscientes”.
“Estamos cada vez mais decididos, e nossa mobilização está de acordo com os tempos”, declarou Victor Tutugoro, porta-voz do escritório político da FLNKS, que questionou o “duvidoso envolvimento do Estado”, que interfere no projeto por meio da ajuda financeira.
Nesta quinta-feira, os bloqueios, que começaram na segunda-feira, prosseguiram além da usina, o que acentuou as divisões entre os favoráveis e os contrários à independência.
Em Mont-Dore, nas proximidades de Noumea, explodiram confrontos entre as forças de segurança e manifestantes perto dos vilarejos de Bourail e La Foa. A principal rodovia da ilha está bloqueada.
Na terça-feira à noite, entre 500 e 1.000 pessoas se reuniram após o apelo do ex-prefeito de Païta, Harold Martin, para denunciar a “inação do Estado” e convidar os cidadãos à defesa.
Após a escalada, Laurent Prévost emitiu uma ordem para proibir o porte e o transporte de armas de fogo e armas brancas.
Com a mobilização das forças de segurança, o governo da Nova Caledônia anunciou a suspensão de todos os voos internacionais de passageiros, escassos devido à pandemia do novo coronavírus.