O Exército israelense realizou nesta terça-feira (29) uma série de ataques aéreos na Faixa de Gaza em resposta aos disparos de morteiros contra o seu território, fazendo temer uma perigosa escalada de tensão entre Israel e os grupos armados palestinos.

Um de seus grupos, a Jihad Islâmica, anunciou à noite um cessar-fogo entre as organizações palestinas e Israel sob os auspícios do Egito, intermediário histórico entre os dois lados.

As Forças Armadas israelenses se recusaram a comentar o anúncio do movimento palestino. Pouco antes, o Exército assegurava continuar com suas operações em Gaza, onde explosões ainda eram ouvidas por volta da meia-noite.

O episódio desta terça-feira faz ressurgir temores de um novo conflito no enclave palestino, onde Israel e o movimento islamita Hamas travaram três guerras desde 2008.

Os Estados Unidos, um país aliado de Israel, denunciaram os tiros palestinos “contra instalações civis” e pediram uma reunião de emergência no Conselho de Segurança da ONU, que será realizada na quarta-feira.

Um porta-voz do Exército, Jonathan Conricus, disse à imprensa que o ataque com projéteis contra Israel da Faixa de Gaza e a resposta israelense são os mais importantes desde a guerra de 2014.

De acordo com as Forças Armadas israelenses, 70 foguetes e obuses foram lançados de Gaza, alguns dos quais foram fabricados no Irã, o inimigo ferrenho de Israel, que apoia os movimentos palestinos.

Em retaliação, o Exército israelense bombardeou mais de 30 “alvos militares” em Gaza, segundo o Exército.

O sistema israelense de defesa aérea interceptou cerca de 25 projéteis, segundo Conricus.

Três soldados israelenses ficaram levemente feridos por disparos palestinos, assinalou o Exército, e não houve vítimas palestinas.

– ‘Ameaças’ –

O Exército israelense também anunciou ter destruído um túnel palestino, o décima desde outubro de 2017, segundo ele, que saía do sul de Gaza, passava pelo Egito e, de lá, entrava 900 metros em território israelense.

Em um raro comunicado conjunto, o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, e a Jihad Islâmica reivindicaram os ataques com morteiros e foguetes que provocaram essa escalada de represálias.

Esses lançamentos foram, por sua vez, uma resposta aos disparos israelenses anteriores, explicaram. Esses “crimes israelenses não podem ser tolerados de forma nenhuma”, disseram as duas organizações, acrescentando que “todas as opções estão abertas”.

Horas depois, a Jihad Islâmica anunciou o cessar-fogo, que de acordo com esse grupo, o Hamas também aplicará.

O ministro israelense de Segurança Interna, Gilad Erdan, afirmou à noite ao Canal 2 da televisão nacional que “os líderes do Hamas e da Jihad Islâmica deveriam temer por sua vida”, acrescentando que era hora de “retomar a política de assassinatos seletivos”.

O ministro da Defesa, Avigor Lieberman, entretanto, avisou que “qualquer lugar de onde procederem tiros das organizações terroristas é um alvo legítimo para a aviação israelense”.

A Faixa de Gaza é o epicentro de crescentes tensões desde 30 de março. Nessa data começou a mobilização chamada “A grande marcha do retorno”, que ocorreu entre confrontos violentos ao longo da fronteira entre Gaza e Israel.

Pelo menos 121 palestinos foram mortos por disparos israelenses desde então, a maioria deles em distúrbios violentos ao longo da cerca de segurança israelense.

Israel afirma que defende suas fronteiras e acusa o Hamas de usar essa mobilização para encobrir as tentativas de atacar a fronteira.

– Ação ‘pacífica’ –

O comitê por trás da “Marcha do retorno” organizou nesta terça-feira a saída de várias embarcações do proto de Gaza para protestar contra o bloqueio que Israel impõe a Gaza há mais de uma década.

Cerca de 20 pessoas, estudantes e feridos à espera de atendimento, abandonaram o porto de pescadores da cidade em um embarcação precária, seguida de outras menores, enquanto balançavam bandeiras palestinas.

A flotilha se aproximou a nove milhas náuticas do bloqueio marítimo, onde era aguardada por barcos da Marinha israelense.

Estes interceptaram a maior embarcação palestina e a levaram até o porto israelense de Ashdod, perto de Gaza. Os demais barcos palestinos deram meia volta.