Yuriy Korpan tem 39 anos, mas, após uma semana de combates violentos contra as tropas russas nos arredores de Bakhmut, no leste da Ucrânia, parece ter envelhecido uma década.

“No campo de batalha, tenho que matar”, repete este pai de três filhos, recrutado em agosto do ano passado e que luta atualmente ao norte de Bakhmut.

A cidade, devastada por meses de combates, caiu em mãos russas em maio. O Exército ucraniano, que lançou uma contraofensiva em junho, tenta agora recuperá-la.

Korpan, um operário da construção civil antes de se tornar soldado, relembra o último dia em que esteve no front.

“Os bombardeios começaram às 4h da manhã, com morteiros e artilharia […] Depois, as coisas se acalmaram um pouco. Uma hora mais tarde, o inimigo começou” a atacar novamente, contou à AFP.

“Respondemos. Metralhadoras, [lança-foguetes] RPG, lança-granadas, depois morteiros. Começamos a batalha.”

– ‘Adrenalina’ –

Quando está em combate, “a adrenalina no sangue aumenta, você entra em uma espécie de euforia […] Está lutando por sua vida e pela de seus irmãos”, descreve Korpan.

“Precisamos estar ali, naquele lugar. Estamos tensos como uma corda esticada e obcecados com uma única ideia: destruir o inimigo que chegou em nossa terra”.

Ao ser perguntado se sente medo, responde que sim, mas que o mesmo “desaparece” quando entra em combate.

“No combate não se pode ter medo, é preciso superá-lo e realizar a tarefa com clareza. O medo também é um inimigo”, responde.

Após a batalha, “pernas e braços doem por causa do enorme esforço físico. São necessários alguns dias para se recuperar”, explica.

Desde o início da contraofensiva, os ucranianos avançam lentamente nas imediações de Bakhmut, em meio a combates “violentos”, segundo o Ministério da Defesa.

O mesmo acontece ao sul de Bakhmut, onde as tropas de Kiev avançam rumo ao povoado de Klyshchiivka.

Nesta localidade está Vitaliy Stolyarchuk, comandante de uma seção de infantaria de 31 anos.

“Claro que é assustador, apenas um louco não teria medo”, garante. “Matar alguém é difícil, tirar a vida de alguém é difícil. Os russos oferecem forte resistência”, mas “suas chances são pequenas: depois de uma preparação de artilharia, saímos e acabamos com os que sobraram”, afirma.

– Minas –

Nesta região proliferam as minas terrestres, uma grande ameaça aos ucranianos.

“Tudo costuma estar minado. Eles [os russos] fogem muito rápido e deixam suas armas para trás. Colocam minas em suas posições durante a retirada. Os soldados [ucranianos] inexperientes caem nessas armadilhas”, afirma Stolyarchuk.

Segundo o médico Volodimir Veselovsky, que trabalha de maneira voluntária em um posto de estabilização onde os soldados feridos recebem os primeiros socorros, as lesões causadas pelas minas têm aumentado.

“Há muitas semanas, os traumatismos causados por minas vêm aumentando. Ferimentos nos pés, nas pernas. Um dia tivemos cinco feridos que tiveram que ser amputados”, declarou Veselovsky à AFP.

Mas ele ressalta que a maior parte dos ferimentos continua sendo causada por ataques de artilharia, particularmente dos temidos lança-foguetes Grad soviéticos.

“Yary” – seu nome de guerra – comanda justamente um batalhão com quase 10 Grad LRM, que podem disparar até 40 foguetes em 20 segundos, cobrindo “uma área de 400m²”.

“Toda essa área queima e explode. Também tem enorme impacto psicológico [nos russos]. Depois de muitos ataques desse tipo, às vezes jogam suas armas e fogem rumo ao desconhecido”, garante.

Korpan, por sua vez, tem uma esperança: “Espero que expulsemos este mal de nossa terra até os [montes] Urais. E os maridos voltarão para suas esposas, e os filhos para seus pais. Vamos reconstruir nosso país”.

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