Em dezembro de 2024, Carolina Maronese, com apenas 27 anos, recebeu um diagnóstico que mudou sua vida completamente: ela era portadora da síndrome de Li-Fraumeni, uma condição genética rara que afeta o gene TP53, responsável por proteger o corpo contra o desenvolvimento de tumores.
Portadores dessa síndrome têm uma chance maior de desenvolver diversos tipos de câncer ao longo da vida. Os tipos mais associados à síndrome são sarcomas ósseos e de tecidos moles, leucemia, linfoma e câncer de mama, entre outros.
Os médicos me falaram que com meu histórico familiar e síndrome genética, a dúvida não era se eu vou ter câncer, mas quando”, relembra Carolina, que decidiu fazer uma mastectomia preventiva em maio deste ano, por recomendação médica, e está em recuperação.
“Não foi fácil olhar para uma parte saudável do meu corpo e ter que me despedir dela, mas eu sei que foi a melhor escolha”, acrescenta.
Por muitos anos, ela viu familiares lutarem contra a doença. A mãe dela, Karine Maronese Pimentel, de 47 anos, teve dois cânceres de mama em 2017 e 2023. Ao passo que a avó de Carolina, Maria Amélia Mora Maronese, de 65 anos, teve dois sarcomas peritoneais, um em 2017 e outro em 2024.
Para Carolina, receber o diagnóstico foi um misto de preocupação e alívio: “foi bom saber porque agora sei que fazer exames preventivos são sinônimos de cura”. Desde então, iniciou uma rotina de exames de rastreamento, acompanhamento médico com oncologista e geneticista e mudanças de estilo de vida.
Histórias como a da família Maronese são exceção à regra. No geral, apenas 5 a 10% de todos os casos de câncer estão associados a fatores hereditários (ou seja, quando há a presença de uma mutação que é transmitida de geração em geração), segundo o Instituto Nacional do Câncer.
O histórico de câncer na família, portanto, não é uma sentença. “Significa, sim, que há um risco maior de desenvolver a doença, mas não necessariamente que um indivíduo (daquela família) vai ter câncer um dia”, explica o médico geneticista Carlos Aschoff, do DB Diagnósticos.
Ainda assim, claro que a preocupação existe. E a boa notícia é que quem tem casos de câncer na família, não precisa esperar de “braços cruzados”. Se você faz parte desse grupo e gostaria de diminuir o seu risco, veja a seguir algumas medidas que estão ao seu alcance.
Conheça o histórico médico da sua família
Pessoas com casos de câncer na família têm maior probabilidade de herdar alterações genéticas, aumentando o risco de desenvolver câncer. De acordo com o geneticista Carlos Aschoff, alguns tipos de câncer têm um componente hereditário maior, como o de mama, ligado ao BRCA1 e BRCA2, o colorretal, ligado à síndrome de Lynch, e o câncer de próstata e pâncreas, ligados ao BRCA2, só para citar alguns exemplos.
Reunir informações sobre a saúde de seus parentes, especialmente de primeiro grau, pode ser essencial para descobrir algum tipo de predisposição hereditária e determinar estratégias de prevenção e rastreamento.
Nesse processo de coletar dados, é importante saber o tipo de câncer que o familiar teve, a idade do diagnóstico e tratamentos utilizados. “Todas essas informações são úteis para conseguirmos ser mais precisos na investigação diagnóstica e no rastreio genético”, explica Gustavo Schvartsman, oncologista clínico e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Faça exames de rastreio rotineiramente
Sabendo que algum familiar próximo teve algum tipo de câncer, é possível começar a fazer exames de rastreamento mais cedo. “Se há histórico de câncer na família de pessoas jovens, a recomendação é que o rastreamento daquele câncer comece dez anos antes do surgimento (da doença) na família de primeiro grau. Por exemplo, se a mãe teve câncer de mama aos 40 anos, o rastreio pode ter início aos 30”, explica Gustavo Schvartsman, da SBOC.
Os principais exames de rastreio para câncer, de modo geral, são: mamografia, colonoscopia, papanicolau, consultas dermatológicas e PSA, entre outros. Esses exames podem detectar câncer precocemente, aumentando as chances de cura da doença.
Converse com o seu médico sobre testes genéticos
Outra opção é considerar a realização de testes genéticos, capazes de avaliar riscos de uma pessoa desenvolver câncer e rastrear possíveis mutações ligadas ao câncer.
Os exames genéticos permitem recomendações mais precisas como o rastreamento mais cedo, realização de tratamentos preventivos como a mastectomia e mudança de hábitos”, explica o especialista da SBOC.
Em geral, a indicação é para quando há mais de um caso de câncer em familiares de 1° à 3° grau de parentesco, quando um familiar apresenta uma alteração genética relacionada ao câncer ou recebeu o diagnóstico de câncer em uma idade jovem (não usual para aquele tipo de câncer).
No Brasil, diversos testes genéticos são oferecidos em laboratórios pelo país, principalmente na rede privada. Porém, há também oferta do exame em casos específicos na rede pública. Em algumas regiões do país, o teste genético para detectar predisposição hereditária ao câncer de mama, por exemplo, já está disponível gratuitamente pelo SUS para grupos específicos, como mulheres com parente de primeiro grau diagnosticado com câncer de mama antes dos 50 anos.
Tenha um estilo de vida saudável
Ter casos de câncer na família aumenta o risco de câncer por questões genéticas, mas também pelo estilo de vida, segundo o especialista da SBOC: “famílias compartilham hábitos e esses hábitos podem aumentar o risco de um indivíduo desenvolver o mesmo câncer. Por exemplo, crianças com pais fumantes têm uma chance dez vezes maior de fumar do que crianças com pais não fumantes”.
A prevenção do câncer está altamente associada a manter um estilo de vida saudável, independentemente da frequência da doença na mesma família. Sendo assim, praticar atividades físicas regularmente, manter um peso adequado e não fumar, assim como reduzir o consumo de carne vermelha e ultraprocessados estão entre as principais indicações já comprovadas cientificamente para se manter livre da doença.
Outro aspecto fundamental é evitar o receio constante de desenvolver a doença.
É preciso entender que o risco existe, mas sem viver com estresse, ansiedade e medo. O ideal é que o paciente direcione os esforços e a energia no que ele tem controle, isto é, um estilo de vida saudável. Essa é a melhor forma de prevenção”, finaliza o oncologista da SBOC, Gustavo Schvartsman.