A busca online no Brasil por temas relacionados à ancestralidade – ou seja, as nossas origens – dobraram ao longo do último ano. O pico de popularidade na procura pelo termo aconteceu em julho de 2020 de acordo com o apontado pelo Google Trends, ferramenta gratuita disponibilizada pelo Google, que permite acompanhar a evolução do número de buscas por uma determinada palavra-chave ou tópico no passar do tempo.

O movimento parece acompanhar a tendência que se originou no cenário internacional. Recentemente, por exemplo, a cantora norte-americana Beyoncé reverenciou seus antepassados no seu novo álbum visual “Black Is King” para a plataforma Disney+ em uma narrativa que exalta a riqueza em ser afrodescendente ao mostrar que a história dos negros da diáspora africana descende de reis e rainhas.

A obra vanguardista traz uma reflexão urgente diante de episódios como a morte de George Floyd por um policial de Mineápolis, nos Estados Unidos (e de tantas outras que acontecem no Brasil) e também confere ainda mais legitimidade a movimentos ativistas como o Black Lives Matter, que luta contra a violência direcionada às pessoas negras. Por outro lado, o filme revela a fotografia de paisagens e cultura de uma África múltipla e diferente da visão ocidental de um continente pobre e arrasado pela miséria e pelas epidemias. E justamente essa conexão real com a sua história de gerações anteriores que deram origem à atual é que vem despertando a curiosidade das pessoas em geral mundo afora.

Nas últimas décadas a maior disponibilidade de tecnologia para o sequenciamento genético humano facilitou o desenvolvimento de produtos chamados de Teste de Ancestralidade, que permitem descobrir em detalhes quem foram os nossos antepassados. Nos Estados Unidos, um kit desses foi o item mais vendido na Black Friday da Amazon em 2018.

Segundo pesquisa publicada na MIT Technology Review, até o início de 2019 pelo menos 26 milhões de pessoas já haviam coletado amostras de saliva para ter um pedacinho do genoma analisado. Agora a mania vem se popularizando no Brasil também, principalmente em função do preço – que despencou com a entrada de empresas brasileiras no cenário.

“É bastante comum se deparar com surpresas sobre as nossas origens quando nos submetemos ao teste de ancestralidade porque, na maioria das vezes, nossa principal referência são histórias incompletas sobre a migração dos nossos antepassados. E desvendar essas gerações anteriores é um processo de autoconhecimento que nos convida a conhecer com mais profundidade contextos que até então nem entendíamos como nossos e também a ressignificar uma série de outras crenças”, detalha Cesário Martins, diretor do meuDNA, healthtech de mapeamento genético que desde novembro de 2019 oferece o produto meuDNA Origens.

Péricles T., 28 anos, pedagogo, fez o meuDNA Origens em busca de dados da sua família biológica, uma vez que foi adotado e não tinha qualquer informação dos ancestrais. “Descobri uma ascendência do leste europeu e do norte da África que eu não imaginava, e me deu uma sensação de pertencimento na minha própria família que me adotou”, comenta.

Qualquer pessoa que queira se conectar com sua ancestralidade pode realizar o teste. Não há contra-indicações. Ele não é invasivo. A compra é online e a coleta é feita por conta própria utilizando um cotonete apropriado para colher uma amostra de saliva. De volta ao laboratório o material biológico é comparado com as variações características de diferentes povos e catalogadas em um extenso banco de dados.