Ao menos nove pessoas morreram em uma forte tempestade que atinge o sudeste, particularmente a zona serrana do estado do Rio de Janeiro, onde as autoridades mobilizaram neste sábado (23) uma forte operação face a uma situação “crítica”.

As autoridades relataram três mortes no desabamento de uma casa na cidade de Petrópolis, a cerca de 70 quilômetros da capital carioca.

Além disso, uma equipe da AFP confirmou na manhã deste sábado a descoberta de outro corpo sob os escombros, após o resgate com vida de uma menina que estava soterrada por 16 horas.

“Um pai heroicamente protegeu a menina com o corpo e ela foi tirada com vida. Então, a gente está agora mesmo com a dor, nós estamos agradecidos por esse milagre da menina estar em vida”, disse à AFP Luis Claudio de Souza, de 63 anos, morador local e dono de um bar.

Dezenas de militares e bombeiros com equipes de cães de busca trabalharam sob a chuva em uma montanha de escombros onde ficava a casa.

O governador Cláudio Castro afirmou na noite de sexta-feira que a situação em Petrópolis é “crítica” devido às “chuvas intensas e ao transbordamento do rio Quitandinha”.

Imagens divulgadas na mídia local mostraram rios de água e lama descendo pelas encostas de Petrópolis, destino turístico que ainda guarda frescas lembranças de uma tempestade que deixou 241 mortos em fevereiro de 2022.

Parte do cemitério municipal foi devastada pelas águas, como observou a AFP neste sábado. Veículos de emergência circularam cedo para atender a população, que continuava enfrentando riscos “muito altos” de novos deslizamentos de terra, segundo as autoridades.

Cerca de 90 pessoas foram resgatadas desde sexta-feira e escolas públicas foram habilitadas como abrigos, informou um comitê de emergência do governo do Rio em conjunto com os Bombeiros e a Defesa Civil.

Brigadas de apoio federais também atuam nas áreas afetadas.

– Clima “severo” –

Na cidade serrana, as chuvas acumularam 270 milímetros em 24 horas, segundo estimativas oficiais.

A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) antecipava uma tempestade “severa”, principalmente no Rio, com precipitação de 200 mm de chuva por dia entre sexta e domingo.

Esse volume supera a média histórica de 141,5 mm estimada para todo o mês de março.

O número de mortos no estado aumentou nas últimas horas, após a confirmação da morte de um homem afogado após o caminhão que dirigia cair em um rio, na cidade de Santa Cruz da Serra.

Outra morte foi registrada na cidade de Teresópolis devido ao desabamento de uma casa, onde estão em andamento as buscas por uma pessoa soterrada nos escombros, informaram as autoridades, que na sexta-feira haviam relatado uma morte causada por um raio em Arraial do Cabo.

Os alertas meteorológicos se multiplicaram desde meados desta semana. As autoridades do estado e da capital carioca declararam dia facultativo na sexta-feira e pediram à população que evite deslocamentos.

– Veículos boiando –

O alerta permanece em vigor até domingo no sudeste do país, após uma onda de calor que nos últimos dias elevou a sensação térmica para um recorde de 62,3 ºC no Rio de Janeiro no último domingo e gerou os maiores registros em São Paulo para o mês de março.

O fenômeno é produzido pela chegada de uma frente fria, que antes causava estragos no estado do Rio Grande do Sul (sul), e após atingir São Paulo e Rio, avançou para o Espírito Santo, explicou o Inmet.

Nas cidades do interior de São Paulo, repetiram-se imagens de carros esmagados por árvores caídas, deslizamentos de terra, desabamentos e cortes de energia. Duas crianças, de 3 e 9 anos, morreram na sexta-feira devido à explosão de um telhado e à queda de um muro, em dois eventos distintos no litoral do estado de São Paulo, segundo a Defesa Civil.

E neste sábado a imprensa brasileira reproduziu imagens chocantes de veículos boiando, arrastados por uma corrente de água, nas ruas de Mimoso do Sul, no Espírito Santo.

O Brasil sofreu recentemente as consequências de fenômenos extremos que os especialistas relacionam à mudança climática.

Entre eles, sofreu fortes tempestades, secas agudas, como a que secou rios na Amazônia no final de 2023, e ondas de calor, com maior impacto na população mais vulnerável e efeitos nos preços dos alimentos.

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