Pronto.

Estamos oficialmente livres do presidente mais despreparado, desinformado e inaceitavelmente anti-democrático que se tem notícia desde o governo militar.

Bolsonaro tem seu mérito.

Conseguiu construir uma nova ética adotada por metade do País. Ou melhor, conseguiu fazer aflorar um brasileiro que não se tinha nenhum registro.

Por sorte, Darcy Ribeiro não viveu para assistir a esse espetáculo de horror que aflorou nos últimos quatro anos, ou teria que rever toda sua obra.

Mas acabou. Ou, ao menos, essa metade do Brasil perdeu seu patrocinador.

E nem mesmo assistimos à cerimonia de posse do novo presidente. Lula já está em virtual exercício.

Ninguém esperou pelos dois derradeiros e protocolares meses deste governo para passar o bastão para o próximo presidente.

Parte do País e a totalidade do planeta, simplesmente ignorou os últimos 60 dias de Bolsonaro e já tratam Lula como presidente de fato.

Isso tem seu lado bom, mas oferece também um enorme risco para o novo presidente.

O lado bom é que nunca rimos tanto.

As últimas semanas permitiram que os herdeiros bolsonaristas nos brindassem com cenas que vão entrar tanto para nossa história política como para a história do humor mundial.

Uma enorme parcela da população se alimentou, por quatro longos anos, de uma dieta de notícias falaciosas que desafiavam a compreensão daqueles com um mínimo cuidado em verificar informações.

Bolsonaro, seus filhos e comparsas criaram uma invejável rede de [des]informações que agora, quando sonhavam com sua milícia eleitoreira nas ruas em sua defesa, resulta em milhares de brasileiros tangibilizando, com gestos, sua ingenuidade e afastamento da realidade.

O absurdo saiu do WhatsApp e tomou as ruas.

Crente em qualquer notícia mentirosa, são agora vítimas até mesmo de fake news da esquerda, criadas apenas para torna-los ainda mais patéticos.

Essas notícias, agora que o mandatário foi derrotado nas urnas, assumiram proporções de um surrealismo que só se justifica se considerarmos que são o resultado de um período no qual a verdade foi esquecida e os factoides se acumularam em camadas sobre camadas, chegando a um ponto onde aquilo que for dito para esses pobres de espirito, será tratado como verdade incontestável.

Um sujeito grita sons guturais e marcha com a bandeira aguardando pela prisão de Alexandre de Moraes.

Outros festejam, porque a suposta prisão já ocorreu.

Então o Ministério da Defesa finalmente emite nota de dúbia compreensão, cujo único fato inconteste é que não houve fraude nas urnas.

Nas ruas, boa parte não entende a mensagem.

Fantasiados de militares, com uniformes camuflados comprados em lojas de pesca, pedem intervenção militar das Forças Armadas. Ultra-religiosos, usam as paredes dos quartéis como muro de lamentações.

Não querem acreditar que ficaram à mercê das intempéries aguardando um final feliz que não ocorrerá.

Um musculozinho grita que o PT vai tomar nossas casas e nossas televisões.

Tudo isso é o final medíocre, de um governo idem.

Acaba por dar prazer mórbido aos que sonhavam em enterrar esse fanatismo.

Há a hipótese de Lula ser um novo presidente em exercício, antes mesmo da posse

Mas tem também um outro lado, perigoso.

Porque agora Lula, de pedra, virou vidraça, instantaneamente.

E nessas duas ou três semanas, nem mesmo ele parece ter entendido o que aconteceu.

Em sua fala, as vezes, deixa escapar o discurso do candidato, que – numa transição normal – seria perfeito como um termômetro, mas que como presidente já em exercício, é sujeito ao escrutínio imediato não só dos que são contra seu posicionamento, mas como daqueles que votaram nele apenas para tirar Bolsonaro.

Além disso, como sempre, o PT parece não compreender o dano que faz à necessidade de reunir o País quando leva para a linha de frente, nomes como Dilma, Gleisi Hoffman, Lindbergh Farias, entre outros, cuja rejeição é inequívoca.

O risco não é mais Bolsonaro, que já se implodiu.

O risco agora é a implosão de Lula, queimando a largada.