A pianista Maria João Pires e o maestro Kent Nagano, pela Cultura Artística (que encerrou a primeira fase da reconstrução de seu teatro); o oboísta e maestro Heinz Holliger com a Osesp, que se despediu de Marin Alsop e anunciou o suíço Thierry Fischer como seu novo diretor musical e regente titular; a mezzo soprano Elina Garanca, pelo Mozarteum Brasileiro; o maestro John Eliot Gardiner na série da Tucca; a temporada da Orquestra Jovem do Estado e da Filarmônica de Minas Gerais.

A lista de grandes artistas e concertos da temporada clássica foi, como de costume, grande, em que pesem as intempéries financeiras pelas quais todos os projetos têm passado (o ano começou, por exemplo, com uma ameaça de corte de 23% no orçamento no governo do Estado de São Paulo, que voltou atrás sob ameaça de um apagão na cultura estadual).

Para além de apresentações pontuais, no entanto, 2019 talvez deva ser lembrado a partir de dois eixos principais: um compositor e um gênero, a ópera.

Música sinfônica, concertos, música de câmara, canções e até mesmo a ópera: em todas as áreas, a cena musical brasileira teve em Claudio Santoro seu personagem de destaque.

No ano do centenário do compositor, sua música foi tocada por todos os principais conjuntos e teatro do País. E o saldo é claro: Santoro entra em seu segundo século celebrado como um dos mais importantes criadores de seu tempo.

Em Manaus, o Festival Amazonas revelou a grandeza de sua escrita dramática com a ópera Alma, baseada em Oswald de Andrade. Filarmônica de Goiás, Osesp, Sinfônica da USP, Filarmônica de Minas Gerais, Experimental de Repertório abordaram diversas facetas sinfônicas de um autor que dialogou com as principais correntes estéticas do século 20.

Com ousadia e originalidade, como mostram também peças como o Quarteto nº 1, editado pelo Quarteto Radamés Gnattali, ou as canções gravadas pelo pianista Nahim Marun e o barítono Paulo Szot (apresentadas em recital na Sala São Paulo, onde Szot foi artista residente, e gravadas em CD que sai em 2020).

Para a ópera, 2019 foi um ano atípico, pela presença de estreias (mundiais ou brasileiras) de obras recentes. Prism, de Ellen Reid, abordou a violência contra a mulher, no Teatro Municipal de São Paulo; no Teatro São Pedro, Ritos de Perpassagem, de Flo Menezes, e O Peru de Natal, de Leonardo Martinelli, mostraram como o gênero poder ser relido no século 21.

Orfeu levou ao palco do Municipal do Rio de Janeiro a releitura do compositor Philip Glass para o filme do poeta Jean Cocteau.

A presença de novos títulos é uma tendência? Espera-se que sim. E, ao mesmo tempo, a programação teve espetáculos capazes de nos relembrar como o grande repertório também é estimulante. Jorge Takla criou um Rigoletto sombrio no Municipal de São Paulo; e Lívia Sabag fez de L’Italiana in Algeri, de Rossini, apresentada no Teatro São Pedro, com inteligência e sensibilidade, uma discussão sobre o nosso tempo.

Assim, mesmo em um ano de tão poucas produções (os dois teatros de São Paulo tiveram, juntos, uma temporada do Colón de Buenos Aires), a ópera mostrou vitalidade e capacidade de diálogo com o nosso tempo.

É curioso – ou apenas uma mensagem a ser relembrada a quem ainda associa o gênero a um passado a ser superado.

Em 2019, não foram poucos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.