113Parece perda de tempo – aliás, deve ser mesmo – encerrar uma semana como a que vivemos, desde o último domingo, tratando de nosso umbigo de sempre.

As manchetes da sexta-feira 7, em todo o mundo, destacaram o lançamento de mais de 50 mísseis Tomahawk sobre a base militar síria de Ash Sha´irat, na província de Homs, como retaliação ao uso de armas químicas contra civis, atribuído ao governo do ditador Bashar al-Assad.

De fato, qualquer discussão sobre o nosso cotidiano marasmento perde o sentido diante das imagens mostrando os corpos e a agonia de bebês e crianças asfixiadas.

Copiando Helio Schwartsman (“Folha de São Paulo”), “a espécie humana é meio esquisita. A guerra na Síria já consumiu cerca de 500 mil vidas, mas os poucos milhares de mortes provocadas por agentes químicos é que geraram maior reação. Por quê? Por algum motivo associamos o envenenamento deliberado à traição e o julgamos moralmente mais reprovável do que outras formas de matar”.

Sim, é isso mesmo. De tão comum diante de nós, os flagelos da guerra parecem estar assimilados por nós; perderam a capacidade de chocar. Mas, talvez, para não enlouquecermos, diante do que nos tornamos, preservamos um código moral mínimo, algumas fronteiras que, ao menos formalmente, não queremos ver ultrapassadas. Cultivamos, por assim dizer, um “código de ética” da barbárie… mas a vidinha continua seu curso por aqui, num rami-rami quase insuportável,  de quase fatos, quase mudanças, quase quase.

Os políticos e a imprensa, nós portanto, passamos meses apresentando à população uma cardápio de emergências que, levadas ao momento decisivo, simplesmente viraram pó, ou quase isso.

A reforma da Previdência Social, na versão original que o Planalto defendeu como inevitável durante meses, cedeu às resistências no Congresso e nas ruas e ninguém é capaz de dizer o que será – ou mesmo se será alguma coisa.
Já a reforma política, apresentada por seu relator na Câmara dos Deputados, está sendo reduzida a uma piada de raposas regulando o cotidiano do galinheiro. Fim do voto obrigatório, redução de imunidades, controle dos custos das campanhas, prioridade à tramitação de projetos de iniciativa popular e outras medidas de interesse da sociedade sequer foram consideradas. Sobraram blindagens, lista fechada para as eleições, anistia ao caixa dois e outras gracinhas.

No Tribunal Superior Eleitoral, que poderia ceifar o mandato de Michel Temer e os direitos políticos de Dilma Rousseff, o “julgamento do século” foi “adiado” para dia nenhum.

Por fim, a regulação de aplicativos como o Uber, de interesse de milhares de taxistas, foi jogada, para um futuro qualquer, já que a Câmara dos Deputados determinou, depois de muito blábláblá, que a palavra final será dos prefeitos. Quando, nem Deus sabe…

Pecado
Sétimo mandamento

Caíram na malha fina da Operação Lava Jato comprovantes de transferências bancárias, com dinheiro oriundo de negociatas entre políticos e empreiteiras, destinadas a diversas organizações religiosas. Parlamentares ligados a igrejas serviram a si e aos seus cúmplices usando ninguém menos que Deus como biombo…

Lava Jato
Entrou em ação

112
Ex-presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, Fernando Fragoso foi convidado para defender Sérgio Cabral. Atuará ao lado de seu colega Luciano Saldanha Coelho, que já representa o ex-governador nos processos da Lava Jato. O criminalista Fragoso tem opinião “altamente negativa sobre como está sendo tratada a delação premiada e a respeito do que está acontecendo com base nesse instituto”, embora não se declare “necessariamente” contrário a esse tipo de acordo entre investigados e investigadores.

TST
Pressão interna

115

O clima andou muito tenso no Tribunal Superior do Trabalho na semana passada. O presidente Ives Gandra Filho foi cobrado por 14 ministros, ao não reagir com vigor à crítica de Gilmar Mendes contra o tribunal (“o TST é laboratório do PT”). Cinco entidades ligadas à Justiça do Trabalho soltaram notas duras contra Mendes. Os ministros queriam a colocação dos textos no portal do TST. Ives não topou. Mas uma sessão “DR” na quinta-feira 6 o fez aceitar inserção de link no endereço eletrônico do tribunal, permitindo a leitura das reações das entidades classistas do trabalho.

Infraestrutura
Deu certo

A nova forma de seleção de projetos para receber recursos do FI-FGTS se mostra um sucesso. No primeiro processo em curso, 35 propostas foram enviadas à Caixa Econômica, gestora dos recursos, sendo a maioria para o setor de energia. Os 15 melhores planos aprovados em maio receberão R$ 7 bilhões. Em junho haverá outra chamada pública para investimentos em rodovias, portos, hidrovia, energia, saneamento e aeroporto, para avaliação do Conselho do FI-FGTS.

Entidades
Acabou em briga

O uso de botox na face, com finalidade estética, aplicada por dentistas, virou um caso judicial. A Associação Médica Brasileira, o Conselho Federal de Medicina e as sociedades brasileiras de Dermatologia e de Cirurgia Plástica ingressaram com ação na Justiça Federal da 1ª Região, na semana passada, pedindo a proibição da prática. Os médicos alegam que o procedimento ultrapassa os limites de atuação dos odontólogos e informam temer pela saúde do paciente. Queixam-se, ainda, de publicidade tendenciosa e de omissão na fiscalização do Conselho de Odontologia sobre o ato.

Montadoras
A vez dos gamers

Para quem se acha entendido e craque em futebol. Cada vez mais patrocinadora do esporte, a General Motors promoverá no Shopping Eldorado, em São Paulo, de 28 a 30 de abril, desafios de habilidades com a bola e jogos entre equipes 4×4, que culminarão com umheadset de realidade virtual – os participantes locais interagindo com jogadores cibernéticos do Manchester United. O mesmo evento terá reedições nos EUA, China e Coréia do Sul.

Justiça eleitoral
Teve alerta

111

Antes do início do julgamento da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, alguns ministros alertaram o relator Herman Benjamin sobre a necessidade de o processo – que vinha bem – cumprir todas as suas etapas, inclusive a de dar prazo de cinco dias às alegações finais da defesa. Como Benjamin não deu ouvidos aos colegas, a sessão de terça-feira 4, ao invés de avançar, desandou, atrasando uma decisão.

Cultura
Além do veto

109

Comemorando 30 anos de carreira, Flávio Marinho lançará “Um amor de vinil”, com o texto integral da peça de mesmo título, na quarta-feira 19, na Livraria da Travessa, em Ipanema. O musical passou por São Paulo e subirá o palco do Teatro Leblon, em breve. Estrelado por Françoise Forton, a atriz queria do autor “um musical romântico, embalado por sucessos de Roberto Carlos”. O Rei não liberou suas criações. Marinho escreveu uma peça, passada numa loja de vinis, onde sua dona, Amanda (meio amalucada e desmemoriada), se apaixona por um frequentador assíduo – o tímido contador Maurício.

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Na Costa do Dendê

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Com o acordo de delação fechado com a PF, no qual confirmou o uso de caixa dois na campanha ao governo de São Paulo em 2014, Duda Mendonça exibe sinais de que vai mudar de ares, após acertar as contas com a Justiça. colocou à venda a sua paradisíaca casa no Sul da Bahia, construída após Lula vencer as eleições de 2002, com decisiva participação do marqueteiro.