O desafio da acessibilidade para pessoas com dificuldade de locomoção é uma preocupação que remonta a tempos imemoriais. Um estudo feito por arqueólogos da Universidade do Estado da Califórnia, EUA, concluiu que diversos templos antigos da Grécia — alguns com mais de 2300 anos — foram construídos com rampas para beneficiar a locomoção de visitantes com deficiência física. Para os estudiosos, a iniciativa era característica de locais que cultuavam entidades ligadas à saúde, como o santuário de Asclépio, deus da medicina e da cura na mitologia grega. A construção, localizada na cidade de Epidauro, possui 11 rampas de pedra, usadas por pessoas em macas, muletas, bengalas e carroças, que, além de carregar fieis, também abrigava animais sacrificados em oferendas.

A arqueóloga responsável pela pesquisa, Debby Sneed, analisou milhares de templos ao redor da Grécia e alega que os outros não eram tão equipados quanto Asclépio. “A razão mais provável pela qual os arquitetos gregos construíram rampas foi para tornar os locais mais acessíveis para quem tinha mobilidade reduzida”, diz Debby. Um cemitério na cidade de Anfípolis analisou esqueletos da época e 60% dos observados apresentaram traços de artrite e outras doenças articulares. Além disso, diversos vasos e esculturas de homens e mulheres apoiados em muletas e bengalas foram encontrados.

Mais pesquisas

Para a coordenadora do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), Paula Braga, o ganho com novas descobertas não é apenas da ciência, e sim da sociedade. “O papel da pesquisa histórica é justamente esse: a partir de novos vestígios, achados arqueológicos e observações empíricas, elaborar novas hipóteses em investigações que revelem elementos ainda não descobertos”, diz. Mesmo após mais de dois mil anos, a visão funcional dos arquitetos gregos ainda surpreende.