Por Nicola Ferreira, da Agência Einstein

 

Se as temperaturas elevadas se manterem nos próximos dois meses, 2020 deve ultrapassar 2016 e se tornar o ano mais quente da história, segundo previsões do Serviço de Mudança Climática, do Programa Europeu de Observação da Terra da Copernicus. O ano já teve setembro como o mês recordista em temperaturas altas – com 0,63ºC acima da média para mês no período de 1981 a 2020. Além do desconforto, o aumento da temperatura e a exposição constante ao calor contribuem para uma série de problemas de saúde como a desidratação, maior risco para doenças infecciosas, infartos e problemas renais. Os impactos do calorão serão sentidos mais por moradores de cidades mais pobres. É o que mostra estudo liderado pela Universidade de Monash, na Austrália, com apoio de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).

 

A pesquisa analisou dados de internações por 16 enfermidades diferentes – que incluem doenças vasculares, do coração e renais – além de informações de temperatura de 1.814 cidades de todo o Brasil.  “O calor e a variação de temperatura geram mudanças no nosso organismo. Entre elas está a vasodilatação, em que o sangue demora mais tempo para chegar aos órgãos, e a perda de volume de água, que tem implicações no controle de pressão e diabetes”, relata Paulo Saldiva, patologista e pesquisador da Universidade de São Paulo e coautor da pesquisa.

 

Após analisar e traçar os comparativos, os pesquisadores descobriram que cidades com renda per capita abaixo da média mundial – entre US$ 1.146 (R$ 6.430) e US$ 4.035 (R$ 22.654,10), segundo Banco Mundial – registram aumento de 5,1% nas internações por todas as enfermidades quando as temperaturas sobem 5 graus acima da média. Em cidades com renda per capita acima da média – de US$ 4.036 (R$ 22.659,72) até US$ 12.475 (R$ 70.039,64) –, o crescimento das internações é mais brando: 3,7%. Em cidades ricas, as hospitalizações crescem 2,6% em temperaturas 5 graus acima da média.

 

“Quanto maior a vulnerabilidade, menor o acesso à saúde de qualidade e a procura por emergências”, afirma o pesquisador. Além de ter menos acesso a tratamentos de qualidade, cidadãos mais pobres tendem a trabalhar mais expostos ao sol, sendo mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças relacionadas às altas temperaturas.

 

Outra razão apontada pelos pesquisadores foi o baixo nível educacional, que prejudica o entendimento a respeito dos prejuízos à saúde causados pela constante exposição ao sol e calor. Além disso, a ausência de espaços públicos que amenizam o clima, como parques, praças e ruas arborizadas contribuem para condições climáticas mais agressivas. “Todo empobrecimento leva a uma piora nos quadros de saúde. Nas cidades, o seu CEP determina quando você vai morrer. Quanto mais pobre o CEP, mais cedo você tende a morrer”, complementa Saldiva

 

Poluição mata 500 mil bebês

 

Não é só o calor. A poluição, grande responsável pelas alterações climáticas, foi responsável pela morte de 500 mil bebês em 2019, segundo pesquisa da plataforma State of Global Air. Seus efeitos foram mais implacáveis em recém-nascidos da índia e África subsaariana, duas das regiões mais pobres do mundo.

 

O estudo, que se baseia em informações dos institutos norte-americanos Health Effects Institute e Institute for Health Metrics and Evaluation, concluiu que três quartos das mortes são provenientes dos combustíveis utilizados nas cozinhas. A pesquisa também comprovou que a exposição a elementos poluentes por parte de grávidas faz com que seus filhos nasçam prematuros ou com peso abaixo do normal.

 

“A poluição faz com que indiretamente tragamos dois a três cigarros por dia e consequentemente tenhamos todos os problemas de saúde decorrentes desse fumo indireto”, explica Paulo Saldiva

 

(Fonte: Agência Einstein)

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