O cantor e escritor  Gabriel, o Pensador foi o convidado de live da IstoÉ Gente nesta quarta-feira (12) . Em entrevista ao jornalista Rafael Ferreira, o rapper carioca fala sobre a recente perda do pai, conta como está a vida na quarentena e faz uma análise do cenário comportamental e político no Brasil e no mundo, com uma crítica ao racismo e um apelo por solidariedade.  “Temos que ser mais racionais na crítica política. A mentalidade do brasileiro ainda é muito atrasada. O Brasil está longe para amadurecer para o diálogo. As pessoas estão muito ligadas na aparência e nas frases feitas”, diz. “É preciso continuar combatendo o racismo com muita força”, avalia.

Na entrevista, o cantor fala sobre os bastidores da criação das músicas, dos poemas e dos clipes. “O ato de compor não é muito racional, é emocional”, diz. O Pensador comenta na live sobre várias músicas e dá uma “palhinha” da canção “A Cura Tá No Coração”, trabalho recente que fez ao lado da rapper Cynthia Luz. A letra é um apelo global à solidariedade, com uma mensagem de esperança, positividade e reflexão. Na edição do clipe da música foram incorporadas imagens de esculturas e pinturas de artistas plásticos mundialmente conhecidos, como o escultor italiano Michelangelo e o pintor francês Renoir.

Para o Pensador, com o mundo em descontrole, estranho, com a matança dos índios, o desmatamento e todo tipo de violência contra as pessoas, todas e todos devem assumir uma nova mentalidade, um outro comportamento, em que as pessoas abandonem o ódio, o sectarismo e as certezas absolutas. “A gente não quer evoluir. Se for por esse caminho de não ouvir o outro, não ter flexibilidade para entender que as verdades não são absolutas, não evolui”, diz. Em suma, o cantor defende o diálogo.

No bate-papo, Gabriel conta também sobre o lançamento de outros recentes trabalhos, como a união do rap e o reggae na parceria com a banda de reggae Ponto de Equilíbrio e a rapper carioca Gabz em “Vamo Aí”. A música foi inspirada no movimento antirracista Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e foi composta com o percussionista de sua banda, Udi Fagundes, e o irmão Tiago Mocotó. Os versos dizem: “o Oscar da covardia vai para quem vira as costas e silencia nossa ferida exposta do dia a dia, essa é a nossa resposta para hipocrisia…”

Com milhares de seguidores nas redes sociais, o cantor, na troca de ideias com Rafael, conta sobre o início de carreira musical, em 1992, depois que lançou o rap “Tô Feliz (Matei o Presidente)” e os bastidores da criação da versão 2, que fazia uma crítica ao ex-presidente Temer, com a gravação do clipe em Brasília e na Amazônia.

Quase três décadas depois de estourar, o Pensador diz na live sobre a mistura agradável do xote com o hip hop na parceria com Ivete Sangalo em “Aglomeração a 2“.  A canção fala de casais que estão juntos na quarentena, enfrentando esse momento difícil de isolamento social. Como diz a letra: “sou mais forte que o inimigo, mais forte ainda contigo, você só abre o sorriso e me lembra que tenho tudo o que eu preciso.”

Gabriel também fala sobre o momento difícil que passou quarentena com a morte do pai, o médico oftalmologista Miguel Contino e diz na entrevista sobre a influência dele também nas composições. “Mostrei uma música para ele sobre a Covid, que recebi e ele, internado, falou: você faz coisa muito melhor”, lembra.

Sem lançar um novo disco desde 2012, quando gravou o “Sem Crise”, Gabriel anuncia na live que já pensa em fazer um novo álbum com os singles produzidos recentemente. “Tenho muitas músicas que não estão em discos”, afirma. Além da música, o Pensador transita na literatura com maestria. Ele lançou três livros, o autobiográfico “Diário Noturno” e os infantis “Um Garoto Chamado Rorbeto” e “Meu Pequeno Rubro-Negro”. Sua quarta obra, “Nada Demais”, co-autoria com Laura Malin, está completa, mas ainda não foi publicada. “Estou numa fase de trazer coisas pra gente pensar. Na quarentena eu escrevo muito” e conta sua forma de criação: “palavra puxando palavra.”

Paralelo a sua carreira musical e de literatura, Gabriel também é um ativista social, tendo como projetos o “Pensador Futebol” que investe em jovens jogadores que querem se profissionalizar e do projeto social conhecido como “Pensando Junto”, que atende crianças carentes da Rocinha. “O Brasil ainda tá longe de amadurecer para o diálogo, para o respeito, mas eu acredito muito na transformação das pessoas”, conclui.