No momento em que a atenção da economia mundial se volta para estratégias ambientais, de sustentabilidade e de governança – conhecidas pela sigla ESG -, a lista de prioridades de Wilson Ferreira Jr. mostra que sua migração da presidência da Eletrobrás para a da BR Distribuidora não foi aleatória. Recém-privatizada, a ex-subsidiária da Petrobrás está virando a chave em direção ao mercado de energia sustentável. “Essa história na BR está apenas começando”, diz Ferreira, que assumiu o cargo na distribuidora de combustíveis no mês passado.

A ideia é ser uma consolidadora no mercado de comercialização de energia elétrica, no qual a empresa ingressou em janeiro, com a compra da Targus. “A BR tem grande capacidade financeira que permite adquirir ou consolidar parte desse negócio”, disse Ferreira, em entrevista concedida na semana passada à série Olhar de Líder, do Estadão/Broadcast.

Como tem sido a sua chegada à BR Distribuidora?

A primeira (missão) é aprender sobre o negócio: me acostumar com a dinâmica de um setor que tem desafios ainda maiores, porque vivemos a perspectiva da transição energética. Também estava acostumado com um em regime de monopólio e, neste setor, a concorrência é muito forte. O mundo está se voltando à consciência ambiental e à agenda ESG. Temos de avaliar como essa transição afeta os negócios. A BR é uma empresa recém-privatizada e houve avanços em termos de produtividade. Tenho trabalhado para colocar essa agenda com senso de urgência maior, para que a companhia termine o ano não só como a líder de mercado em volume, mas em eficiência.

A BR comprou em janeiro a comercializadora de energia Targus. Como isso afeta o negócio?

Se a gente olhar a transição energética de forma muito simplista, os combustíveis mais pesados devem, com o tempo, ser substituídos pelo gás natural e, na sequência, a tendência é de a economia ser cada vez mais eletrificada. Nosso ingresso, via Targus, já é para atender a esta certeza de que a sociedade vai ser mais dependente de eletricidade. Temos capacidade para comprar em longo prazo e atender a essas necessidades de forma competitiva. Na energia elétrica, nosso primeiro movimento foi via Targus. Um dos temas importantes é que a gente consiga ser uma rede diferenciada sob o ponto de vista da energia que utilizamos.

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Podemos esperar da BR novas aquisições no setor elétrico?

Estamos avaliando. Participei, como presidente da CPFL, da criação de uma das primeiras dez comercializadoras; hoje, devemos ter quase mil operando no mercado. Neste momento, a ideia é fortalecer a Targus. Já estamos oferecendo produtos da Targus a revendedores e imaginamos também criar pacotes para trabalhar junto a grandes consumidores.

Esse domínio no setor elétrico pesou em sua ida à BR?

Na área de energia, estamos vivendo de fato uma transição no mundo todo. Em mobilidade, haverá não só carros elétricos, mas também movidos a hidrogênio. Tenho fascínio pela questão da transição voltada para a energia elétrica. É um cenário em que o consumidor vai prevalecer. Obviamente, pretendo trazer experiências de 40 anos no setor elétrico. No caso da BR, estamos apenas começando. É uma jornada grande e importante nessa agenda ESG, que está determinando as transformações. Defendi por muitos anos a formação de uma corporação, no caso da Eletrobrás. A BR já é uma corporação. É privatizada, sem controlador definido.

Mas com 37,5% ainda com a Petrobrás. É possível a venda desta fatia ainda este ano?

A Petrobrás tem um projeto de longo prazo. Nele, consta a estratégia de desinvestimentos, na qual se enquadram refinarias e participações como a nossa. Vou marcar (uma reunião) com o general Luna e Silva. Trabalhamos juntos, ele como diretor geral nacional de Itaipu e eu, como conselheiro. Quero ter a oportunidade de, em breve, me sentar com ele e ter essa definição (sobre a BR). A Petrobrás se manifestou favorável a este processo no ano passado, mas tivemos, por força da própria pandemia, uma depreciação das ações em toda a B3. A recuperação está ocorrendo e entendemos que já há condição de preço atrativo para que a Petrobrás venha a fazer esse movimento.

O sr. conversou com ele, depois que foi indicado ao cargo?

Algumas vezes. Mais para saudá-lo e encorajá-lo, porque a gente estava em situação idêntica. Os dois, coincidentemente, mudando do setor elétrico para o de óleo e gás. Quando a gente conversa, fala mais em relação a estes desafios. Mas, óbvio, temos agenda convergente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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