SÃO PAULO, 19 JUN (ANSA) – Por Lucas Rizzi – Tentando dar um sinal de estabilidade e reverter o isolamento internacional que marca seu governo, o presidente Michel Temer embarcou nesta segunda-feira (19) para uma viagem oficial à Rússia e à Noruega.   

Enquanto o Brasil aguarda com ansiedade os desdobramentos da delação de Joesley Batista, o peemedebista será recebido no Kremlin por um dos homens mais poderosos do mundo, Vladimir Putin, pouco mais de oito meses depois de ter sido o único dos líderes dos Brics a não ter tido uma reunião bilateral com o presidente russo na última cúpula do grupo, na Índia, em outubro passado.   

Na pauta, estará não apenas a vontade de mostrar que seu governo continua firme, mas também o desejo de atrair investimentos para a combalida economia brasileira, que vem se tornando uma parceira cada vez mais importante de Moscou, às voltas com as sanções impostas por Estados Unidos e União Europeia.   

Apesar da crise, nos primeiros cinco meses de 2017 as trocas comerciais entre os dois países totalizaram US$ 2,1 bilhões, um crescimento de 40% em relação ao mesmo período de 2016. “Existe uma questão econômica e comercial que não é trivial. A Rússia não se compara aos principais parceiros internacionais, mas é importante. Depois das sanções pela Crimeia, o Brasil conseguiu aumentar as exportações para a Rússia”, explica Oliver Stuenkel, coordenador do MBA em relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).   

Além disso, o professor ressalta que a Rússia continua sendo um país de grande importância geopolítica, e o encontro entre Putin e Temer é um sinal de que Moscou segue enxergando o Brasil como um parceiro de destaque, independentemente de suas disputas políticas internas.   

Nos últimos meses, o isolamento do peemedebista no cenário internacional ficou evidente nas visitas de alguns líderes europeus à América Latina. François Hollande (França), Sergio Mattarella (Itália) e Angela Merkel (Alemanha) foram prestigiar o presidente da Argentina, Mauricio Macri, mas não fizeram questão de esticar a viagem ao vizinho Brasil.   

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Isso sinaliza não somente as ressalvas quanto a Temer, mas também a pouca importância que seu governo tem dado à política externa. Ao contrário de Macri, que terá um mandato completo e tenta construir um projeto de médio e longo prazo, o horizonte do presidente do Brasil só vai até o fim de 2018, e seu governo tem como única missão aprovar as reformas pedidas pelo mercado.   

O ingrediente extra desta viagem para Rússia e Noruega é a crise política em Brasília. À beira de ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República e com a delação de Joesley pesando sobre seus ombros, Temer tenta passar ao país e ao mundo – e principalmente aos investidores – uma imagem de estabilidade.   

“Essa viagem representa o grau de confiança do governo de que ele tem liberdade para fazer uma coisa dessas. Os próprios analistas não acreditam que Temer irá cair. Qualquer governo que estivesse lutando pela sobrevivência não faria uma coisa assim”, afirma Stuenkel.   

Noruega – Após a Rússia, o peemedebista seguirá para a Noruega, país que considera o Brasil uma prioridade de sua agenda internacional e é um importante contribuinte para projetos de combate ao desmatamento na Amazônia.   

A ida a Oslo acontece após o Congresso ter aprovado medidas provisórias para reduzir a área de proteção ambiental na floresta – nesta segunda, antes do embarque, Temer anunciou no Twitter que vetou os itens que diminuíam a zona preservada.   

“Houve preocupação em países como Alemanha e Noruega em relação à postura brasileira. Esse tema é uma prioridade para a Noruega, e o Brasil é um elemento-chave”, salienta o professor da FGV.   

Além disso, o país nórdico tem grande interesse em investimentos no setor de energia.   

“Na visão deles, o Brasil está muito no radar. É muito dinheiro da Noruega que vem para o Brasil, então também é uma questão importante na política interna do país”, completa Stuenkel.   

(ANSA)


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