25/05/2018 - 14:31
O presidente Michel Temer acionou nesta sexta-feira (25) as “forças federais de segurança” contra “uma minoria radical” de caminhoneiros que ignorou um acordo para acabar com uma greve que há cinco dias atinge a economia do país.
A crise, a menos de cinco meses das eleições presidenciais, obrigou o cancelamento de voos por falta de combustível no aeroporto de Brasília, paralisou totalmente as cadeias de montagem de automóveis, reduziu a atividade de grandes frigoríficos e provocou uma alta dos preços dos alimentos.
“Acionei as forças federais de segurança para retomar as estradas”, disse Temer em uma breve comunicação do Palácio do Planalto, em Brasília.
“Muitos caminhoneiros estão fazendo sua parte, mas infelizmente uma minoria radical tem bloqueado estradas, impedido que muitos caminhoneiros levem adiante o seu desejo de atender a população e fazer o seu trabalho”, acrescentou, endurecendo o tom.
Foram mobilizados a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e as Forças Armadas, segundo várias fontes do governo consultadas pela AFP.
Exército, Marinha e Aeronáutica anunciaram que vão mobilizar uma ação rápida, integrada e de forma enérgica para liberar a circulação em áreas “críticas”, como refinarias, portos e aeroportos e evitar o desabastecimento, disse a jornalistas o ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna.
“A proposta do governo de convocar as Forças Armadas como instrumento de repressão é querer apagar fogo com gasolina, ou seja, só acirra e dificulta uma solução equilibrada”, disse em nota um conjunto de centrais sindicais, que se ofereceram para mediar os grupos.
– Pressão sobre mobilizações –
Com o anúncio do governo de recorrer à força, o movimento sofreu nesta sexta-feira outras pressões: a PF abriu investigações por possível associação para a prática de crimes contra a organização do trabalho, a segurança dos meios de transportes e outros serviços públicos. A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que ordene o debloqueio das rodovias.
A Prefeitura de São Paulo decretou estado de emergência, medida que lhe permitirá, entre outros pontos, requisitar, ou apreender bens privados, como o combustível armazenado em um posto.
O governo e sindicatos de caminhoneiros haviam chegado na quinta-feira a um acordo para suspender por 15 dias o movimento gerado pela forte subida do preço do diesel, em contrapartida de concessões fiscais.
A maioria dos postos em São Paulo e no Rio de Janeiro não tinham combustível.
Mas alguns sindicatos não se deram por satisfeitos e, nesta sexta-feira, o movimento continuava com força, com mais de 500 bloqueios em 24 estados.
Luciano Constant, um caminhoneiro autônomo de 43 anos que participa de um bloqueio da estrada BR-040 em Duque de Caxias, afirma que os que participaram das negociações em Brasília “estão botando regras para eles, e nossas regras são outras”.
“Hoje em dia, você pega um frete de 1.000 reais para ir a São Paulo, gasta 400 reais de diesel e 400 reais de pedágio. Sobram 200 reais. Como você vai comer? O que vai sobrar para a sua família?”, disse à AFP.
– Governo enfraquecido –
Nas negociações, o governo se comprometeu a suprimir um tributo sobre o diesel, chamado Cide, e a criar um sistema de subvenções para prolongar a redução de 10% do preço do diesel na saída das refinarias, anunciada pela Petrobras, inicialmente limitada a 15 dias.
Mas não fez qualquer menção ao Pis/Cofins, que tem um impacto maior que o Cide na composição de preços, ante as reticências do Ministério da Fazenda.
As ações da Petrobras despencaram 14% na quarta-feira na Bolsa de São Paulo, devido aos temores dos investidores de ingerências políticas na estatal. Na tarde desta sexta, as ações preferenciais da empresa registravam uma queda de 1,39%, e as ordinárias de 0,52%.
A crise questiona a capacidade de articulação política do governo até sua passagem de poder, em janeiro, e de dar um apoio eficaz a seu candidato, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
A mobilização “deixa mais evidente ainda a fraqueza desse governo e vai ter impacto eleitoral, porque o governo vai ser como um leproso: ele vai se aproximar de qualquer candidatura e todo mundo vai querer fugir”, disse à AFP o analista político André César, da consultoria Hold.