O apelo do governo para que o texto da reforma da Previdência não sofra modificações na Câmara não tem sido levado a sério pelos deputados. A avaliação de parlamentares da própria base é que o presidente Michel Temer faz um “jogo de cena”, porque sabe que a proposta será alterada, mas não poderia admitir isso publicamente neste momento para não abrir brechas que levem à desconfiguração completa do projeto.

Um integrante do comando da comissão que discute a Proposta de Emenda Constitucional 287 comparou o momento atual com o que acontece no início de um “namoro”, onde os dois envolvidos estão se conhecendo e testando até onde cada um pode ir. Neste cenário, cabe ao governo endurecer o discurso de que não aceitará que a proposta seja alterada e aos deputados irem elaborando medidas para conseguirem implementar as mudanças desejadas no texto.

Como parte da estratégia do governo, Temer transmitiu o seu recado aos lideres da base em um jantar realizado na segunda-feira e escalou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para realizar uma série de reuniões com bancadas da base aliada para esclarecer dúvidas sobre a proposta. Nos encontros, o ministro tem batido na tecla de que essas mudanças podem tornar a reforma insuficiente. “Uma reforma da Previdência muito diluída para não criar resistências não resolve o problema. Se não for para fazer uma reforma completa, é melhor não fazer nada”, disse durante reunião hoje com deputados do PSD.

Do outro lado, os deputados têm acenado que o projeto não passará sem modificações. O próprio relator da comissão especial que discute o tema, deputado Arthur Maia (PPS-BA), afirma que as regras de transição propostas pelo governo são muito duras e que precisarão ser modificadas.

Até mesmo deputados do PMDB, partido de Temer, defenderam alterações no texto durante o encontro que tiveram com Meirelles. Em discurso no plenário nesta quarta, o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), primeiro-secretário da Câmara, declarou ser injusto que homens e mulheres se aposentem com a mesma idade.

O DEM, aliado de primeira ordem do governo, chegou a elaborar uma emenda ao projeto para “suavizar” as regras de transição. O partido propôs que a idade mínima de 65 anos para aposentadoria só passe a valer para trabalhadores que nasceram depois de 1993.

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