O presidente em exercício, Michel Temer, aprovou a decisão do ministro das Relações Exteriores, José Serra, de repudiar as críticas feitas pela Venezuela, por países aliados e pelo secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), Ernesto Samper, ao processo que afastou Dilma Rousseff do cargo.

Temer não só avalizou as duas notas emitidas na sexta-feira pelo Itamaraty como ajudou a redigir uma delas para deixar claro que o rito estabelecido na Constituição para o impeachment “foi seguido rigorosamente”, cumprindo determinação do Supremo Tribunal Federal.

O Itamaraty informou que o vice-ministro venezuelano para América Latina e Caribe, Alexander Yánez, disse ao embaixador do Brasil em Caracas, Ruy Pereira, não haver qualquer medida de retaliação ao governo Temer. A especulação sobre o impasse nas relações entre os dois países ocorreu porque o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocou o embaixador do país em Brasília, Alberto Castellar, após a divulgação das notas.

O Estado apurou, porém, que a Venezuela fez questão de esclarecer que Castellar foi chamado a Caracas para uma reunião, mas não para abrir controvérsia com o Brasil. A chanceler Delcy Rodrigues afirmou que Castellar – o primeiro de uma lista de 15 embaixadores prestes a apresentar credenciais ao governo Temer – retornará a Brasília nos próximos dias.

O comentário no Palácio do Planalto é que a gestão Temer não poderia ficar em silêncio diante das críticas feitas por Venezuela, Bolívia, Cuba, Equador e Nicarágua em relação ao afastamento de Dilma. Foi o primeiro sinal da mudança de tom da política externa brasileira.

Em conversa com sua equipe, Serra disse que nenhuma manifestação para pôr em dúvida a legalidade do processo político no Brasil ficará sem resposta, mas isso não significa comprar briga com os vizinhos. “Nossa preocupação é em esclarecer as inverdades”, disse o chanceler. “Não vamos calar nem escalar.”

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Para o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, Serra está adotando uma “posição correta”, respaldado por Temer. “Precisamos voltar a ter uma diplomacia pragmática, que ajude o Brasil a crescer. Não podemos ter uma diplomacia ideologizada”, argumentou.

O embaixador Sérgio Amaral, ex-porta-voz e ex-ministro do Desenvolvimento de Fernando Henrique Cardoso, minimizou a atitude de Maduro de chamar Castellar. “O embaixador sequer está nas funções, pois não apresentou as credenciais. O importante é sinalizar a mudança”, disse Amaral, que participou da reunião com Serra.

Uma nota foi enviada pelo Itamaraty, na sexta-feira, a todos os Ministérios de Relações Exteriores de países com os quais o Brasil mantém relações para informar que Dilma está afastada em decorrência de um processo de impeachment que segue a Constituição. A preocupação de Temer é desconstruir a versão, divulgada por Dilma, de que houve um “golpe” no Brasil.

El Salvador

Ontem (14), no entanto, o presidente de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén, disse não reconhecer o “governo provisório” de Temer e avisou que chamará de volta a embaixadora do país em Brasília, Diana Vanegas. Para Cerén, Dilma foi “submetida a julgamento por algo que não se comprovou ser um crime”. O Ministério das Relações Exteriores de El Salvador classificou o impeachment como “manipulação política”.

No Congresso, o posicionamento do Itamaraty obteve respaldo de aliados do governo e provocou críticas por parte dos petistas. “Recomendo que José Serra tome muito suco de maracujá e acalme-se, porque as reações devem se proliferar por todo o mundo”, disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Vamos denunciar o golpe ocorrido. O Brasil está sendo comparado a uma republiqueta de bananas.”

Para o ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), a reação de Maduro era esperada. “Ele está incomodado porque perdeu um parceiro conivente. O governo da presidente Dilma Rousseff foi absolutamente omisso sobre as violações cometidas na Venezuela.”

“Precisamos acabar com essa palhaçada diplomática criada pelo ex-presidente Lula e continuada por Dilma. Vamos defender os países democráticos contra o populismo, o bolivarianismo e o chavismo”, disse o vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). Para o deputado Henrique Fontana (PT-RS), tratar a questão como “bolivarianismo” é uma visão “simplificadora” da política externa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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