O ex-presidente da República Michel Temer (MDB) afirmou ver falta de diálogo entre o Palácio do Planalto e a Casa Branca desde o início do governo e defendeu o encontro de soluções para o tarifaço de 50% aplicado pelo governo americano aos produtos brasileiros. A declaração foi dada nesta segunda-feira, 25, em conversa com jornalistas durante um seminário promovido pelo Esfera.
Temer avaliou a necessidade de ambos os presidentes cederem às negociações para encontrar consenso sobre a tarifação. O ex-presidente defendeu uma ligação entre ambos para abrir o canal de diálogo. A ideia tem resistência do presidente dos EUA, Donald Trump, que já afirmou não querer conversar com o Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste momento.
“A relação não é entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. A relação é entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos. Eu telefonaria. Se ele não atendesse, eu diria que fiz o possível”, afirmou o ex-presidente.
Nas últimas semanas, o ministro da Indústria e vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, tem tentado intensificar as conversas com autoridades americanas. Uma viagem para o México para debater as tarifas está programada para terça-feira, 26.
O tarifaço entrou em vigor oficialmente no dia 7 de agosto, mas foi anunciado pelo governo americano um mês antes. Desde então, o governo brasileiro tentou articular nos bastidores alternativas para reverter o cenário. Após a pressão do setor empresarial, Trump recuou a tarifação de ao menos 700 produtos, mas manteve, por exemplo, a taxação sobre a carne e o café.
Em comunicado, Trump apontou questões políticas, como o julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) para justificar a tarifação. Bolsonaro é réu no inquérito que investiga uma tentativa de golpe de Estado articulado pela cúpula do Planalto após a derrota para Lula nas eleições de 2022.
Temer, no entanto, vai na contramão do pensamento e avalia que o tarifaço é motivado por questões econômicas. Ele aponta a defesa do Brasil na criação de uma moeda única para transações internacionais, enfraquecendo o dólar americano, hoje usado como moeda oficial para acordos comerciais. O ex-chefe do Planalto ressaltou haver uma falta de diálogo entre os dois governos desde que Trump assumiu a Casa Branca, o que poderia ter motivado as sanções econômicas americanas.
“Penso que a economia pesa bastante nessa decisão [da taxação]. Foi um retruque a ideia de se abandonar o dólar como moeda universal discutida no Brics. Eu acho que falta uma tentativa de diálogo do governo com os Estados Unidos. Eu acho que a razão econômica que tem gerado essa decisão do governo americano”, afirmou.
O ex-presidente ainda tentou driblar questionamentos sobre a articulação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para sanções contra ministros da Suprema Corte para o avanço do tarifaço contra o Brasil. Para ele, há questões emocionais envolvidas para o Eduardo tentar salvar Bolsonaro e, às vezes, faz coisas “inadequadas”.
“Eu vejo que há questões familiares. Eu acho que há muita emoção nessa história, é a emoção do filho para com o pai. Ele quer salvar o pai de qualquer maneira. E ao tentar salvar o pai, faz coisas consideradas inadequadas”, reforçou o ex-chefe do Planalto.