A proposta de construir teleféricos em áreas de difícil acesso e de alta densidade populacional, um dos pilares do plano de governo de Paulo Pablo Marçal (PRTB), pode enfrentar desafios de viabilidade e efetividade mais complexos do que sugere o candidato à Prefeitura de São Paulo.

Inspirado em cidades como Medellin, na Colômbia, e La Paz, na Bolívia, Marçal alega que a implementação modal na capital paulista teria baixo custo e pouco impacto no meio ambiente. Na visão de especialistas ouvidos pelo site IstoÉ, porém, o declive dos terrenos em que a população vulnerável da capital paulista vive não é comparável ao dos países vizinhos. Além disso, a especificidade do modelo faria dele pouco eficaz — e quiçá mais caro do que o imaginado —, para cumprir a função desejada.

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O professor Eduardo Sampaio Nardelli, da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que o equipamento serve para que as pessoas atravessem um desnível que não seria confortável de andar a pé. Não é o caso da capital paulista.

A arquiteta e urbanista Isadora Buchala, que também é doutoranda da USP (Universidade de São Paulo) vai além, e diz que, para implementar o equipamento, “seria preciso construir a altura necessária e isso entraria no custo e na infraestrutura”, acrescentando ainda que a falta de planejamento na construção do projeto poderia ter o efeito inverso — o da gentrificação.

“Acredito que, se o objetivo é privilegiar as populações mais vulneráveis, poderiam ser pensadas outras formas de fazer isso aproveitando as infraestruturas existentes”, avalia.

Teleféricos de Marçal têm baixa viabilidade e não melhorariam problema de mobilidade em SP, dizem especialistas

Teleférico TransMiCable, usado por turistas para visitar a Ciudad Bolívar, um dos bairros mais pobres de Bogotá, no sul da capital colombiana (Crédito: AFP)

Viabilidade financeira e reurbanização de favelas

Em entrevista sabatina ao site IstoÉ, Marçal declarou que construção do modal custaria cerca de R$ 50 milhões por quilômetro e teria o intuito de reurbanizar as comunidades de São Paulo. Segundo ele, o serviço seria “cinco vezes mais barato” que o metrô e demoraria menos para ser construído. “O teleférico é a solução de infraestrutura e de mobilidade para as pessoas que moram nesses lugares (comunidades) se locomoverem”, ressaltou.

O plano de governo do ex-coach também sugere que, diferentemente das linhas de metrô, o estabelecimento de teleféricos evitaria o gasto de recursos com desapropriações. As propostas do empresário ainda incluem a reurbanização das favelas. “Criar polos gastronômicos, hoteleiros, de empreendedorismo e centros olímpicos”, pontuou o candidato durante a sabatina, alegando que, desta forma, a comunidade se tornaria um ponto turístico.

“Quando a gente faz algum investimento público, estamos falando de custo benefício. Mesmo que se gaste pouco, se o benefício não é bom, não vale a pena”, esclarece Nardelli, alegando que, mesmo com o estabelecimento do meio de transporte sugerido pelo candidato, ainda haveria custos com desapropriações. “É preciso de uma estação de embarque e desembarque, assim como no metrô; não se faz apenas o trilho do trem”, contrapõe o professor de arquitetura e urbanismo.

Para o especialista, a reurbanização das favelas idealizada por Marçal não depende da construção de teleféricos. “A solução do problema da moradia é sistêmica, é mais profunda que isso”, afirma Nardelli. O professor qualifica o projeto como “completamente inviável”.

PPP (Parceria Público-Privada)

Ainda, o candidato do PRTB cita que a construção ocorreria por meio de uma parceria público-privada, um contrato de colaboração entre o setor público e o privado para gerir obras e serviços de interesse público, já que não haveria qualquer arrecadação por parte da Prefeitura de São Paulo.

Eduardo Nardelli questiona se um agente corporativo se interessaria por um projeto como o teleférico desejado por Marçal. “Esse empreendedor privado só vai participar se ele conseguir chegar a conclusão de que o equipamento vai voltar a ele em forma de lucro”, comenta.

De acordo com Isadora, a parceria público-privada é comum pelo fato de os governos não possuírem o orçamento necessário para arcar com grandes obras. “É uma forma interessante de viabilizar obras. O ponto de atenção desse tipo de atuação é que realmente possa haver uma documentação bem detalhada que fiscalize essa colaboração”, ressalta a arquiteta e urbanista.

Confira trecho da sabatina de Pablo Marçal em que candidato comenta sobre os teleféricos:

**Estagiário sob supervisão