A consolidação da era da tecnologia na virada do século tem sido uma forte aliada no processo de internacionalização de empresas brasileiras. De um universo de 237 empresas consultadas para a 16ª edição da pesquisa “Trajetórias de Internacionalização das Empresas Brasileiras” realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC), 80% se internacionalizou após o ano 2000. Vale lembrar, segundo a responsável pelo levantamento, a professora Lívia Barakat, que 62% destas empresas foram fundadas antes do ano 2000.

“É interessante pensar nessa virada do século como um marco na consolidação da era da tecnologia e, consequentemente, um aprofundamento e facilitação nos meios de comunicação, transporte e informação, elementos-chave em um processo de internacionalização”, disse a professora em entrevista, em que comentou os resultados da pesquisa a que o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) teve acesso em primeira mão.

Outra curiosidade do estudo está no fato de que do total de empresas pesquisadas e que chegaram à internacionalização, 109, classificadas como “tradicionais” e fundadas antes do ano 2000, levaram quase 20 anos para atingir o objetivo de atuar fora do Brasil – 76 foram fundadas depois de 2000. Em média, estas empresas precisaram de apenas seis anos para chegar ao exterior.

Quando se trata de startups, o prazo médio é ainda menor, de 4 anos. “Algumas startups se globalizaram em apenas três anos após o nascimento e outras já nasceram globalizadas, se valendo da transformação digital, que favorece a inserção lá fora”, comenta Barakat.

De acordo com a professora, a compreensão mais tradicional de que internacionalização pressupõe investimentos e participação física no exterior é ainda como se uma espécie de trava a um movimento maior de empresas atuando no exterior. Há ainda uma visão tímida das empresas brasileiras em se internacionalizarem porque ainda vislumbram um mercado doméstico muito grande, em que elas podem crescer, e isso faz com que foquem mais em exportações ou formas de atuar no exterior que envolve menos riscos.

“Então, ao invés de abrir uma fábrica lá fora, manter uma parceria estratégica ou só exportar e ter um distribuidor local, a empresa mais tradicional faz pequenas adaptações nos seus produtos e serviços. Afinal de contas, o mercado brasileiro é tão que grande faz mais sentido, do ponto de vista da eficiência, a empresa produzir em massa para o mercado brasileiro e, com pequenas adaptações, ofertar praticamente o mesmo produto para o mercado externo”, afirma a professora ao observar que nem sempre esta é uma boa estratégia visto que as demandas de fora são diferentes das internas.

Essa tática de fazer pequenas adaptações, segundo Lívia, milita contra a criação de novos produtos, de investimentos em inovações e até mesmo adaptações mais robustas, de acordo com a particularidade de cada mercado. A conclusão da professora da FDC, com base na compilação dos dados da pesquisa, é a de que as empresas brasileiras que têm pretensões de se internacionalizarem precisam evoluir na preparação.

Isso implica ter uma equipe preparada e com uma mentalidade global. “Não adianta querer se internacionalizar se não respeita outras religiões, crenças, culturas, se não sabe se relacionar com os diferentes stakeholders. Outro ponto que deixa a desejar é o investimento. Internacionalizar requer investimento de longo prazo. É diferente de estar no país onde todo mundo conhece sua marca”, lista a professora.

De acordo com ela, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), uma das patrocinadoras da pesquisa, tem apoiado a internacionalização, mas existem burocracias que dificultam bastante o processo. “Mas a despeito de todas as dificuldades, tem crescido o número de empresas internacionalizadas que têm planos de entrar em novos países nos próximos dois anos. Metade pretende expandir nos países onde está”, afirmou Lívia.