Há dois anos, o Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio de Janeiro, decidiu abrir mão do modelo tradicional de aulas, com um professor apresentando o conteúdo na frente da classe. Os alunos passaram a ser divididos em grupos, cada um com uma mesa e um computador próprios.

Atendidos por pelo menos dois professores em cada aula, eles passaram a trabalhar em um ambiente mais parecido com um espaço de “coworking” do que com uma universidade. É um exemplo mais radical de como a tecnologia está sendo usada para remodelar a metodologia de diversas instituições, envolvidas em uma busca pelo equilíbrio entre o novo e o tradicional.

A tecnologia vem sendo lentamente incorporada ao cotidiano dos estudantes. Até porque a abolição completa do método que há anos é usado na maioria das escolas ainda é uma mudança muito extrema, inclusive para os alunos. “Acho que as aulas expositivas precisam existir”, diz Manuela Ravioli, 16, estudante do Colégio Mater Dei, em São Paulo. “Muita gente não conseguiria acompanhar o conteúdo”.

“Rupturas de cultura são sempre complicadas. No futuro,
as famílias vão fazer escolhas. Se o aluno precisa apenas
passar no vestibular ou receber uma educação diferenciada”

Aleksej Junior, professor do Colégio Mater Dei

No Mater Dei, a lousa tradicional ainda é usada e vista como uma ferramenta válida, mas não é a única. “A tecnologia é mais uma ferramenta, mais um meio de transmitir o conteúdo para os alunos”, afirma o professor Aleksej Junior. O colégio instiga o aluno a buscar uma parte do conteúdo na internet, antes da aula, para que a troca de informações na sala seja mais rica. Os estudantes também são encorajados a deixar o celular em cima da mesa e usá-lo para buscar algo no Google ou assistir a um vídeo no YouTube. No colégio Pioneiro, também em São Paulo, o caso é semelhante. Projetos multidisciplinares fazem parte do currículo e incluem atividades de programação. Alunos montaram um console de videogame e um tapete de dança, por exemplo, usando conteúdos vistos em sala.

Apesar de usarem a tecnologia de maneiras mais ou menos intensas, todas as instituições têm em comum a valorização da cultura “maker”, derivada do pensamento faça você mesmo, responsável por valorizar as decisões dos alunos, e uma relação diferente com os professores, baseada na troca, não apenas na transmissão do conteúdo. “Sempre que você trabalha com uma linha autoral do aluno é difícil o projeto dar errado”, diz Débora Sebriam, coordenadora de tecnologia educacional do Pioneiro. Os resultados não são avaliados com métricas tradicionais, mas apontam um caminho promissor. “Estamos em beta permanente”, afirma Thiago Almeida, diretor de inovação do Celso Lisboa. “O índice de faltas diminuiu, assim como os atrasos e a evasão”, conta ele. Enquanto uma análise aprofundada para determinar o sucesso de longo prazo dessas abordagens ainda não é realizada, esses indícios mostram que os alunos estão mais motivados em sala de aula.

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