O suíço Philippe Guerdat, de 68 anos, assumiu como técnico da equipe de saltos do hipismo do Brasil e vai comandar o grupo nos Jogos de Tóquio. Ele era o treinador da França quando foi campeã olímpica no Rio, em 2016, e é pai de Steve Guerdat, atual número 1 do mundo e medalha de ouro em Londres-2012.

Com um currículo invejável, ele quer ajudar o time brasileiro a fazer bonito no Japão e não coloca empecilho para o retorno do cavaleiro Rodrigo Pessoa ao time. Mas avisa que o famoso atleta não fará parte da equipe somente pelo nome, terá de mostrar serviço.

“Ele necessita de bons resultados e é isso que coloca alguém no time. Claro que Rodrigo é um supercavaleiro, mas não é o único no Brasil, temos muitos”, disse o treinador suíço, em entrevista ao Estado.

“Eu conversei muito com ele, fizemos um planejamento para que as coisas melhorem, pois ele ficou um bom tempo sem competir no alto nível. Apesar de ele ser um cavaleiro de ponta, precisa melhorar sempre. Ele esteve na minha posição na Irlanda por dois anos, então sabe exatamente que não é fácil contentar todo mundo. Ele precisa provar, pois não é porque é um campeão olímpico que entrará no time. Ele sabe como sou, legal com meus atletas e rigoroso nas escolhas”, avisou Guerdat.

O treinador esteve na semana passada acompanhando os cavaleiros brasileiros no 29.º Concurso de Salto Internacional e Nacional CSI-W e CSN Indoor da Sociedade Hípica Paulista. Ele aponta muitos bons atletas com chance de representarem o País nos Jogos Olímpicos. “Temos 12 cavaleiros que estão bem e preciso de quatro em ótima forma para Tóquio. Em 11 meses, temos de aperfeiçoar e treinar. Mas é importante frisar que a equipe não é formada pelos quatro que estiveram em Lima, é feita por 12 cavaleiros.”

Nos Jogos Pan-Americanos de Lima, o Brasil conquistou a classificação olímpica com a medalha de ouro. O quarteto foi formado por Pedro Veniss, Marlon Zanotelli, Eduardo Menezes e Rodrigo Lambre. “Foi uma competição difícil e serviu como boa oportunidade para preparação”, afirmou Guerdat.

Para ele, o Brasil tem ótimos cavaleiros, mas nem todos possuem ótimos cavalos. “Claro que dinheiro é parte disso, mas nem tudo. Se comprar cavalos jovens, pode ter sucesso com eles, mas para isso precisa de tempo. E não temos tempo. É preciso comprar cavalo até o fim do ano, porque no ano que vem não pode fazer isso para a Olimpíada. Temos alguns bons cavalos e talvez teremos um ou dois a mais”, explicou.

MISSÃO – Guerdat revela que está gostando de sua missão no Brasil e confessa ter sido surpreendido pelo convite, até porque sempre trabalhou nos grandes centros da modalidade. “Agora, no fim da minha carreira, aparece essa oportunidade. Conheço a maioria dos cavaleiros do Brasil, há muito tempo, então será um bom desafio. Eu gosto disso e quero resultados. São dez grandes equipes no mundo e vamos lutar com elas.”

Humilde, ele brinca dizendo que um técnico de hipismo não pode fazer muita coisa. Mas depois mostra sua relevância. “Acho que podemos fazer a seguinte comparação: o Brasil é um país do futebol e você pode ter os melhores técnicos; mas, se não tiver jogador, não tem time. Então tem de dar conselhos, ver o que estão fazendo, traçar um bom planejamento e depois vem a coisa mais importante: construir uma equipe”, disse.

“O hipismo não é uma modalidade coletiva, mas você precisa do time. Precisa deixar de lado a vaidade e aceitar o que acontece com a equipe. Todo país tem bons atletas, bons cavalos, mas fazer um time é complicado. No hipismo, ao final dos dias de competição você precisa ter um pouco de sorte. São dez equipes com possibilidade de vencer”, continuou o treinador.

Ele explica que, nos Jogos do Rio, em 2016, a equipe francesa tinha bons cavalos, mas também contou com a sorte. “Não é uma prova como os 100m rasos do atletismo, que se você fizer 9s50 chegará na frente. Por isso que digo que é importante moldar uma equipe, onde cada um luta pelo outro e não somente por si próprio.”

O técnico só não gosta de falar muito sobre o seu filho, um cavaleiro vitorioso e que vai brigar pela medalha olímpica em Tóquio. Guerdat diz que separa bem as coisas e que quando estão juntos costumam conversar sobre cavalos e o programa de treinamento.

“É difícil falar dele, não gosto muito, mas sei que trabalha duro. Quando era jovem aprendeu a treinar e preparar os cavalos e melhorou muito. Talvez não seja um dos melhores cavaleiros do mundo, mas em planejamento é um dos melhores. Ele traçou sua carreira, sou orgulhoso dele”, comentou Guerdat.

DESPEDIDA – Para o suíço, a Olimpíada de Tóquio será a sétima e última de que vai participar. “Gosto de curtir esse momento, é a cada 4 anos, e será minha última vez. Tenho muitos sonhos e sou sortudo por poder participar disso”, concluiu o técnico.