O América de Natal, clube que disputa a Série D do Campeonato Brasileiro, anunciou no último fim de semana a saída do técnico Edson Vieira antes mesmo de sua estreia oficial. Como o treinador só se vacinou contra a covid-19 no sábado, dia 30 de abril, o clube preferiu não esperar os 14 dias estipulados no Guia Médico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para ter o profissional na beira do gramado e decidiu pelo seu desligamento.

Edson Vieira, que é pai do youtuber e jogador Juninho Manella, foi anunciado no dia 27 de abril. Inicialmente, o América-RN divulgou que ele não comandaria o time contra o Afogados-PE no sábado por não ter sido regularizado a tempo no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF.

Porém, pouco antes de a bola rolar, a informação era de que o técnico ficou fora por ter se vacinado somente horas antes da partida. Ele não havia tomada nenhuma das doses do imunizante contra a covid-19.

Sem a regularização, Edson Vieira acompanhou da arquibancada a derrota por 1 a 0 da sua equipe e comentou sobre as razões que motivaram sua escolha de só ter se vacinado naquele dia, mais de um ano após o início da aplicação de imunizantes no país. “Vivo em um país democrático e em nenhum momento ninguém colocou uma arma em minha cabeça e disseram que eu era obrigado a me vacinar”, afirmou o profissional, visivelmente incomodado com o questionamento dos jornalistas.

O treinador mencionou problemas hereditários e garantiu que não pegou covid-19, mesmo após ter feito quase 90 testes no período. “É direito de um cidadão brasileiro que fez 87 exames contra a doença, não pegou e tem problema familiar com trombose. Eu não queria nem entrar nesse mérito porque não é futebol”, afirmou.

O departamento de futebol do América informa que não sabia que o treinador não estava vacinado, uma condição defendida pelo clube potiguar para seus profissionais. “O Edson Vieira estava trabalhando até 15, 20 dias atrás na Série A3 do Paulista pelo São José-SP. Então, para nós, como iríamos saber que ele não tinha tomado vacina?”, afirmou Edson Fassina, diretor de futebol do América-RN.

Pelo clube paulista, o técnico esteve na beira do gramado em 18 partidas, deixando a agremiação na fase quadrangular, sem o acesso. Ele disputou seu primeiro jogo oficial no fim de janeiro, e não teve problemas com a vacinação contra a covid-19 porque o protocolo elaborado pelo Comitê Médico da Federação Paulista de Futebol (FPF) apenas recomendava a vacinação completa de todos os profissionais, além de exigir testes para covid antes de cada partida.

A partir do dia 10 de março, após o Governo de São Paulo anunciar a liberação total do público nos estádios e a dispensa no uso de máscaras, a FPF passou a exigir dos não vacinados um termo de responsabilidade (com anuência do médico do clube) para a assinatura em súmula, que o técnico permanecesse atuando regularmente sem a exigência da vacinação. Apenas ao chegar no clube potiguar, desta vez sob diretrizes da CBF, que exigiam a imunização completa, o técnico teve de se vacinar.

REGRAS DO JOGO

O tempo de 14 dias que o América-RN teria de esperar para contar com o técnico recém-vacinado é uma diretriz disposta no Guia Médico da CBF, um documento publicado inicialmente em junho de 2020 e que vem recebendo atualizações até então. Na última delas, em janeiro deste ano, foi determinada a exigência do ciclo vacinal completo (dose única ou duas doses) para que jogadores e integrantes das comissões técnicas estejam disponíveis para inscrição em súmula e, com isso, para atuarem profissionalmente em competições nacionais.

De acordo com o guia médico, o prazo de 14 dias é contado após a data da aplicação de vacina de dose única ou da D2. Como recebeu a aplicação de um imunizante de dose única, Vieira teria condições de ser inscrito em súmula no dia 15 de maio, espera considerada inviável pelo clube potiguar, o que acarretou na demissão.

Ainda no Rio Grande do Norte, o principal rival do América-RN, o ABC precisou aguardar para contar com dois de seus reforços anunciados antes do início da Série C. O lateral Alison, ex-Água Santa-SP, e o volante Wellington Reis, ex-Aimoré-RS, só tomaram a D2 em Natal, e precisaram aguardar o prazo de 14 dias para terem condições de atuar pelo Alvinegro.

Procurada pelo Estadão, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não quis comentar o assunto. A vacina foi tema polêmico também na seleção brasileira. Em janeiro de 2021, Tite revelou que deixou o lateral Renan Lodi fora da convocação para os duelos com Equador e Paraguai devido ao fato de atleta ter tomado, naquela altura, apenas uma dose da vacina.