Assim como ainda não foi possível desenvolver uma vacina que mate o novo coronavírus, a indústria têxtil também não produziu tecidos que o eliminem definitivamente. No entanto, um passo, mais que importante, acaba de ser dado nesse setor: a criação de tecidos que deixam o vírus inativo. Desativá-lo, porém, não é matá-lo. Constitui-se em outra coisa: é impedir a sua aderência a uma determinada superfície ou a um determinado material — no caso em questão, aos tecidos. Roupas e máscaras já estão começando a ser fabricadas de forma a impedir essa adesão. Duas empresas saem como pioneiras no País: a Rodhia e a Nanox, que produzem, respectivamente, fios com íons de prata e uma solução líquida a base também de prata.

“Assim como álcool em gel, os fios de íons de prata inativam a gordura que protege o rna do vírus”
Renato Boaventura, vice-presidente do Grupo Solvay

 

PROTEÇÃO Máscara produzida com tecido banhado em solução de prata: testes na USP (Crédito:Divulgação)

No caso da Rhodia, a empresa aplicou seu conhecimento em produção de materiais antibactericidas como ponto de partida. O vice-presidente do Grupo Solvay (dono da Rhodia), Renato Boaventura, explica que o produto desenvolvido trabalha com atuação sanitizante e dura por todo o tempo útil do tecido. “A literatura aponta que a prata é um metal que desativa os vírus”, diz ele. “Assim, criamos fios com íons de prata. Mas o tecido não é mágico. É apenas um produto que auxilia na prevenção e não substitui todas as recomendações da OMS”. O artigo é fabricado em poliamida e promete evitar a contaminação do usuário pelo tecido. A Rodhia diz que a tecnologia já é negociada com diversas empresas para a produção de roupas, em especial para atividades esportivas e uniformes escolares, além de existir uma negociação avançada junto ao setor automotivo e aeroportos.

Nanox, por sua vez, desenvolveu uma solução líquida que é aplicada em qualquer tecido e dura cerca de 30 lavagens. O CEO da empresa, Luiz Gustavo Pagotto Simões, faz questão de agradecer o apoio que a empresa encontrou na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e aos pesquisadores e universidades envolvidas no projeto: USP e Universitat Jaume I (Espanha). A solução desenvolvida pela Nanox pode ser aplicada em qualquer tipo de tecido, mas foi testada em poliéster e algodão. Simões explicou que “o tecido é imerso na solução e após secagem já tem a propriedade antiviral”. Os testes foram feitos no laboratório da USP. O professor Lúcio Freitas Junior (doutor em microbiologia e imunologia e pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da instituição) diz ter comprovado que em contato com o tecido o vírus fica inativo em dois minutos.

Existem outras iniciativas no País na produção de tecidos antivirais como, por exemplo, a Dalila Têxtil, em Santa Catarina, que promete eficácia por até 20 lavagens. Em muito pouco tempo o Brasil se torna uma referência e as empresas que desenvolveram a pesquisa estão de olho no mercado externo. A Rhodia já exporta o tecido para a Itália. Enquanto não há uma vacina disponível, objetos que possam contribuir para a proteção são sempre bem-vindos. A tendência é que mesmo depois da pandemia esses produtos tenham lugar de destaque entre os consumidores.