O Teatro Irene Ravache, em São Paulo, recebe a Companhia Camará de Repertório Teatral para uma releitura da peça Três Irmãs, de Anton Tchekhov, neste final de semana – dias 30 e 31 de agosto – para a finalização de uma curta temporada da montagem clássica.
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No texto, Olga, Macha e Irina – as três irmãs – vivem em uma pacata cidade do interior da Rússia. Lá, elas sonham com uma vida melhor em Moscou. Presas a uma rotina vazia, elas enfrentam o tédio, a saudade do passado e a esperança de um futuro que nunca chega. Ao redor delas, o tempo passa, as promessas se desfazem e a vida segue sem grandes mudanças.
A peça revela um retrato profundo da fragilidade humana e do desespero existencial diante da inércia e da passagem do tempo. Além disso, o texto questiona a capacidade do ser humano de agir e transformar a própria realidade, com as personagens constantemente desejando mudar, mas permanecendo paralisados em suas circunstâncias.
De acordo com a diretora da Cia Camará, Thais Klarge, a temática ainda continua bastante atual e reflete os dias de hoje. “A peça traz monólogos extremamente profundos sobre a nossa existência e o que fazemos dela. Hoje em dia, pensando na nossa contemporaneidade, percebemos que ainda trazemos conosco os mesmos sentimentos em meio a tempos de mudança: o desejo de que nossa existência tenha sentido, de que nossos sonhos possam ser alcançados e de que nossa vida caminhe para um lugar melhor”, afirma.
“Contudo, nem sempre é possível concretizar esses desejos, e precisamos lidar com toda a frustração e o que fazemos da nossa vida quando ela segue um rumo diferente do que imaginamos. O texto da peça traz exatamente essa reflexão. As personagens sonham a todo momento em retornar para Moscou; nós, como companhia, queremos trazer e ampliar a reflexão para o público: afinal, qual é a Moscou de cada um? Onde estão nossos desejos e sonhos? Acredito que esse seja um questionamento muito válido para nossos dias atuais”, considera a artista.
Segundo Klarge, existem vários motivos pelos quais as personagens da peça têm dificuldades em mudar suas realidades. Eles vão desde medos até vícios, passando por conformismo e o sentido de dever familiar. “No que diz respeito ao todo, acredito que haja uma dificuldade em mudar essas realidades pelo próprio curso da vida em que eles construíram na cidade do interior onde foram morar”, pondera.
“É como se fosse uma teia, onde quanto mais se tece, mais fica difícil perceber o início e o fim do processo. Como coletivo, as personagens estão presas a um dever moral e ao cotidiano da rotina, que vai cada vez mais destruindo os sonhos, que antes serviam de combustível para imaginar uma vida melhor”, explica.
Ela acredita que todos esses fatores estão ligados à vida real. “Muitas vezes planejamos diversos movimentos para modificar nossa realidade, mas o cotidiano de nossa vida, a aceleração do tempo e a fragilidade das relações humanas interferem na modificação dessa realidade”, diz.
De acordo com ela, o processo para o entendimento do texto e das personagens mudou o grupo de trabalho de forma profunda. “Quando começamos, ainda não tínhamos mergulhado profundamente nas personagens. Havia um entendimento sobre elas, mas não uma pesquisa aprofundada, o que foi acontecendo ao longo do processo. Fizemos diversos exercícios para nos conectarmos mais com nossos personagens e entre nós mesmos, o que auxiliou muito no processo de interpretação”, afirma.
“Acredito que cada um da Companhia foi tocado por essa peça e refletiu sobre sua vida a partir do que ia aparecendo nos exercícios práticos. Uma coisa acredito que pode ser dita e serve para todos nós da Cia: tínhamos um sonho de mostrar para as pessoas o quanto essa história é atual e o quanto ela pode nos fazer pensar sobre nossos sonhos e frustrações”, relembra.
Segundo a diretora, o público pode esperar uma versão mais intimista do texto clássico e as pessoas vão se sentir parte da realidade daquelas personagens. “O cenário, os figurinos e a encenação seguem uma linha realista minimalista, mas também optamos por outras linguagens teatrais que trazem um novo ar para a montagem de Tchekhov. Com essa proposta, buscamos fortalecer o teatro como espaço de reflexão e experimentação, conectando um dos maiores dramaturgos da História às inquietações do público contemporâneo”, finaliza.
Serviço:
Três Irmãs, de Anton Tchekhov
Dia 30/08 às 19h30 e 31/08 às 17h
Teatro Irene Ravache – Rua Capote Valente, 667 – Pinheiros
Ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/tres-irmas-curta-temporada/3036940