Fã de Taylor Swift desde 2009, quando começou a buscar informações sobre a discografia da artista americana, o tradutor Igor Paiva, de 33 anos, aguardou mais de uma década para ver a cantora pela primeira vez. A empolgação, no entanto, se transformou em pesadelo no primeiro show da cantora nessa sexta-feira, 17, com problemas relacionados ao calor e ao tumulto.

Com um público de cerca de 60 mil fãs, a estreia da turnê “The Eras Tour” de Taylor no Brasil também ficou marcada por uma tragédia. Ana Clara Benevides, de 23 anos, morreu antes do início do show que ocorreu no Estádio Nilton Santos, o Engenhão.

“Estamos todos muito assustados com tudo que aconteceu. Todos os meus amigos que foram passaram mal”, afirmou Paiva. Além do calor insuportável, ele cita o excesso de sujeira no chão. “Por já não ter muita paciência para fila, cheguei no estádio às 16h45. Fiquei chocado com a quantidade de lixo nas filas.”

Pontualmente, o show começou às 19h30. Mas depois, afirma Paiva, muitas pessoas começaram a passar mal, por causa do calor. “Tínhamos uma amiga na grade da pista premium e ela relatou que mal dava para respirar. Somente a produção da Taylor distribuiu água durante o show. Inclusive, ela mesma (a artista) interrompeu o show para orientar sua equipe na distribuição durante o set de Everore, precisamente às 20h45?, afirmou Morais, ao criticar o preço do copo de água (R$ 8).

“Além de sua equipe, ela mesma foi entregar água a uma fã do outro lado do palco”, contou Paiva. Às 21h50, durante a canção Marjorie, ele decidiu que era o momento de ir embora. “Não sei explicar o tamanho do calor. Eu pingava suor. Não tinha vento, nada. Eu não estava mais aguentando. Foi quando fui reparar que tinha tapume em toda parte nos anéis internos do estádio. Muita gente precisou de ajuda. Não pude acompanhar o show até o fim, que terminou depois das 23 horas”, afirmou ele.

No X (antigo Twitter), ele já havia falado dos problemas do evento. “Não vale a pena ir a um show desses no Brasil. Você já vai pensando que pode ser assaltado, que pode ter que correr de arrastão, que pode passar mal e agora vai sabendo que pode morrer de tanto calor e sede. Fiquei me sentindo culpado por não estar conseguindo curtir aquela noite que esperei por tantos anos na vida.”

Embora seja extremamente fã da artista, ele diz que se arrependeu de ter ido ao show. “No momento que cheguei perto do estádio, já me arrependi de ter ido. E comprei ingressos para os três dias do Rio. Mas não vou nos outros shows. Não tenho coragem. Prefiro ter prejuízo e torcer pra vê-la em condições mais humanizadas.”, lamentou ele, que vai se informar sobre ressarcimento.

“Esperar mais de dez anos para ver a Taylor e me deparar com o que vivi no show foi assustador. O descaso com o fã, as condições deploráveis às quais ficamos sujeitos, é revoltante. A grosseria geral de todos os colaboradores do evento. A imundície do estádio. De verdade, não temos estrutura para receber um show dessa magnitude”, afirma ele, que mora em Brasília e chegou ao Rio na sexta para ver o show.

Paiva cita ainda a última experiência em um show deste porte, em agosto de 2022, quando viu Lady Gaga na turnê The Chromatica Ball no MetLife Stadium, nos Estados Unidos, em um show que reuniu mais de 55 mil fãs.

“A diferença da experiência é quase algo de outro mundo. Lá, tudo é meticulosamente pensado para seu bem-estar. Aqui, tudo é meticulosamente pensado para lucrar o máximo possível.”

Nas redes sociais, outros fãs também já anunciam a venda de ingressos para as próximas apresentações após a experiência negativa dessa sexta. “diante do que aconteceu preciso pensar na minha segurança, por isso vendo DOIS INGRESSOS VIP PISTA PREMIUM MEIA – 18/11?, escreveu a usuária @dearisabela no X (antigo Twitter). “Eu tive taquicardia duas vezes na fila ontem”, disse ela em outra publicação.

O show de sexta-feira foi o primeiro de três shows da artista no Engenhão. O próximo ocorre neste sábado, 18. Segundo a empresa Climatempo, a temperatura ainda vai aumentar, a máxima prevista para este sábado no Rio é de 42º, dois graus a mais do que nesta sexta, que teve máxima de 40º e sensação térmica de quase 60º. O último show na capital fluminense será no domingo, 19. Em São Paulo, as apresentações serão nos dias 24, 25 e 26 de novembro.

Governo determina distribuição de água

A Tickets for Fun, responsável pela organização do show no Brasil, lamentou a morte e disse ter dado suporte à jovem. Segundo a nota da empresa, ela foi “prontamente atendida pela equipe de brigadistas e paramédicos, sendo encaminhada ao posto médico” do estádio. Em seguida, a jovem foi levada ao Hospital Salgado Filho, onde morreu depois de quase uma hora de atendimento.

A empresa ainda não comentou, porém, as críticas à organização do evento nem falou sobre providências para as próximas apresentações. A prefeitura do Rio determinou a antecipação da entrada do público em uma hora, para evitar aglomerações, e o aumento das equipes de primeiros socorros. A Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor disse que exigirá que a Tickets for Fun garanta o acesso à água durante toda a turnê.