Os juros futuros fecharam a sessão perto da estabilidade, com viés de alta na maioria dos contratos. O fôlego de baixa se esvaiu a partir do meio da tarde, em movimento que começou com ajustes técnicos e ganhou força com declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre a área fiscal e condições de liquidez no exterior, que tornam mais difícil a “lição de casa” de países emergentes. Com isso, as taxas se desviaram do comportamento dos Treasuries, até então a principal referência para a curva local, cujos rendimentos seguiram em baixa, e do recuo dos preços do petróleo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 11,050%, de 11,034% no ajuste de sexta-feira, e o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 10,98% no fechamento, de 10,96%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 11,16% (11,14% no ajuste) e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,57%, de 11,58%.

As taxas estiveram em alta firme pela manhã, acompanhando o avanço dos retornos dos Treasuries de longo prazo, com o da T-Note de 10 anos tendo furado brevemente a barreira dos 5%. Ainda na primeira etapa, porém, os yields passaram a cair. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos estava em 4,84%. O petróleo em baixa também ajudava a descomprimir a curva local. A commodity fechou em queda de mais de 2%, dada a percepção de que o conflito do Oriente Médio não deve escalar.

Após aproveitar a melhora externa para buscar parte dos prêmios embutidos na curva, o investidor, em meados da tarde, recolheu suas fichas, o que reduziu o fôlego dos DIs. “Os players de juros estão bem ‘machucados’ e sem grande espaço de risco para fazer alocações adicionais”, explicou o estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein.

Num segundo momento, as taxas efetivamente zeraram a queda e passaram a mostrar discreta alta, repercutindo o discurso de Campos Neto. Em evento organizado pelo Estadão, com apoio do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), em parceria com o B3 Bora Investir, ele alertou que o aperto da liquidez global, em meio aos juros mais altos pagos nos Estados Unidos, pode afetar economias emergentes de “forma mais severa”. “A barra ficou mais alta, agora tem que fazer melhor”, comentou o presidente do BC, que pediu a aprovação no Congresso do pacote enviado pelo governo para elevar receitas, em busca da reversão do déficit das contas primárias.

Na leitura do economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, Campos Neto pareceu estar com dúvida sobre fatores que podem fazer a inflação cair e, consequentemente, parece um cenário difícil o da convergência da inflação para a meta. “Ele tem falado bastante sobre a influência do ‘higher for longer’ para o ambiente de países emergentes e dado bastante atenção a esse ponto e, dado o caráter não-transitório, parece que vai ser um limitador para o ciclo de cortes do BC”, afirmou.