Os juros futuros fecharam a quarta-feira com viés de alta. O trecho curto teve avanço moderado durante toda a sessão, enquanto as taxas longas inverteram o viés de baixa na reta final dos negócios, o que configurava perda de inclinação para a curva. A piora não teve gatilho claro, enquanto a agenda do dia reforçou a ideia de corte de 25 pontos-base no juro dos EUA e de aumento, na mesma dose, da Selic, nas reuniões de política monetária da próxima semana. O resultado da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) ficou acima do esperado, ainda que em função de fator atípico, e o índice de inflação ao consumidor veio relativamente em linha com o previsto.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,925%, de 10,919% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 11,79%, de 11,76% ontem. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,75%, de 11,73% no ajuste de ontem, e o DI para janeiro de 2029, taxa de 11,83%, de 11,81% ontem.

A movimentação das taxas foi restrita, na ausência de um vetor forte o bastante para estimular posições mais firmes. “A dinâmica do mercado no curto prazo está toda travada pela espera da próxima quarta-feira”, explica o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, referindo-se às reuniões do Federal Reserve e do Copom no dia 18.

O economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano, avalia que o mercado de juros esteve “de lado”. “Ameaçou andar com a PMS, mas voltou”, disse, lembrando que “um fator pontual acabou tirando o número da expectativa”.

O volume de serviços prestados em julho cresceu 1,2%, superando o teto das previsões (1,1%) coletadas pelo Projeções Broadcast. Segundo o IBGE, o número foi afetado por uma correção nas receitas informada por um grande participante da pesquisa, que vinham sendo subestimadas. De todo modo, a leitura dos dados sugere atividade ainda resiliente neste terceiro trimestre e num setor que o Banco Central tem especial preocupação, que é a inflação de serviços.

Mathias, da Monte Bravo, destaca que o quadro geral da economia brasileira “é muito bom”, com melhora dos investimentos, mercado de trabalho aquecido e bom desempenho do setor externo, mas ameaçado por um único fator, a piora do risco fiscal. “Que terá de ser corrigida pelo aperto no juro”, diz o estrategista, que prevê um ciclo de restrição monetária com aumentos sequencias de 0,25, 0,50 e 0,25 ponto a partir da próxima semana.

Nesse raciocínio, a Selic vai subir mesmo diante de um cenário atual benigno para a inflação, como mostrou ontem a queda de 0,02% do IPCA, com os potenciais impactos das queimadas sobre preços de alimentos e energia sendo considerados como algo pontual. Tampouco o alívio do quadro externo seria capaz de evitar o aperto, tendo produzido também efeito limitado sobre o câmbio, outro segmento que é visto como refém do risco fiscal.

Nesta quarta, o núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) nos EUA em agosto mostrou variações mensal de 0,3%, ante consenso de 0,2%, e anual de 3,2%, em linha com a mediana, e consolidou a aposta de queda de 0,25 ponto no juro em setembro como majoritária.

Pelo lado fiscal, deve chegar ao fim a novela da desoneração da folha de pagamentos. A proposta que passou no Senado deve ser votada na Câmara nesta quarta-feira, data limite estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para os parlamentares encontrarem uma fonte de receita compensatória.