Taxas de juros têm queda firme com apostas de corte na Selic e às vésperas do IPCA-15

Sob uma confluência benigna de fatores domésticos e exteriores, os juros futuros negociados na B3 acentuaram o ritmo de queda na segunda etapa do pregão desta terça-feira, 25, renovando mínimas intradia na parte final da sessão.

O movimento consolidado do dia, para agentes, teve como maior indutor fala considerada mais explícita do diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, de que o próximo passo é um ajuste para baixo na Selic. Já a partir das 17h, quando as taxas voltaram a tocar mínimas, investidores avaliam que a curva refletiu apostas mais favoráveis para o IPCA-15 de novembro, que será publicado na quarta pelo IBGE. “Desde segunda há uma preparação para o IPCA-15”, disse um economista de uma grande tesouraria à Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caiu de 13,552% no ajuste de segunda-feira para 13,505%. O DI para janeiro de 2029 diminuiu de 12,799% no ajuste anterior para 12,735%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,085%, vindo de 13,13% no ajuste.

Ao participar de evento do Eurofinance, o diretor de política monetária do BC retirou de cena a possibilidade de um novo aumento na Selic, que, de acordo com ele, não faz mais parte do cenário-base da autarquia. “A questão agora é entender quando será o processo de corte de juros”, comentou. A afirmação, ainda que sem grandes novidades, foi vista como relevante pelo mercado, que discute janeiro ou março como ponto de início para o ciclo de afrouxamento.

Já o presidente do BC, Gabriel Galípolo, adotou tom mais moderado, ao apontar que a inflação está perdendo ímpeto, mas ainda em ritmo mais lento do que o desejado. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Galípolo reforçou o compromisso da autoridade monetária com o do centro da meta inflacionária, de 3%.

Levando em conta as comunicações recentes do BC e o quadro de inflação e atividade, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia começar o ciclo de cortes tanto em janeiro quanto em março, motivo pelo qual o mercado está dividido sobre essas duas reuniões, destaca Gean Lima, gestor de portfólio da Connex Capital.

“Tem duas opções: o Copom pode sinalizar em dezembro que inicia o ciclo em janeiro, ou a segunda, que para nós é mais provável”, defende o gestor: incluir elementos mais ‘dovish’ no comunicado do encontro de dezembro, para apenas no mês seguinte indicar que vai cortar a Selic em março. “Esse é o cenário com que trabalhamos, e hoje praticamente quase todo o movimento dos DIs foi em cima dessa discussão”, apontou.

Lá fora, indicadores conhecidos endossaram as perspectivas de que o Federal Reserve (Fed) vai reduzir o juro em dezembro, o que comprimiu os rendimentos dos Treasuries. Por volta das 18h, o retorno da T-Note de 2 anos recuava a 3,460%. O título de 10 anos cedia a 4,002%, e o de 30 anos, a 4,659%.

Segundo estimativa preliminar da ADP, a economia americana eliminou, em média, 13,5 mil vagas no setor privado por semana no mês terminado em 8 de novembro. Do lado da inflação, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em setembro ante agosto e 2,7% na comparação anual. O dado mensal veio em linha com as estimativas da FactSet, e o anual, ligeiramente acima (2,6%).

“Os números desta terça, principalmente os do mercado de trabalho, reforçaram um movimento de fechamento da curva de juros dos EUA em praticamente todos os vértices”, afirma Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad. O mercado, observa ele, já trabalha com cerca de 82% de chance de redução dos Fed Funds em dezembro.

Por aqui, Shahini avalia que os DIs responderam de “forma tímida” à movimentação dos EUA. “O impacto imediato dos números de hoje [terça-feira] vem sendo sentido mais intensamente no dólar, que operou abaixo de R$ 5,40 durante todo o dia. O mercado local de juros tem reagido mais ao noticiário interno para movimentos mais amplos”, avaliou. Assim, as atenções se concentram no IPCA-15 de novembro, que será conhecido nesta quarta, nota o especialista.