Os juros futuros fecharam a terça-feira em alta, pressionados pelo IPCA-15 de maio acima da mediana das estimativas do mercado e com avaliação ruim dos preços de abertura, principalmente os vencimentos do miolo da curva. Ainda que menor do que a dos vértices intermediários, a alta na ponta longa superou 20 pontos, refletindo o clima de risk off no exterior.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,41%, de 13,269% no ajuste anterior, o DI para janeiro de 2024 voltou aos 13,00%, de 12,765% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou a sessão regular em 12,26%, de 12,029% na segunda-feira. A do DI para janeiro de 2027 voltou a 12%, fechando em 12,01%, de 11,774%.

O IPCA-15 de 0,59% superou em 0,14 ponto porcentual a mediana das estimativas de 0,45%, de 1,73% em abril, acumulando 12,2% em 12 meses. “A composição foi extremamente desfavorável. A queda expressiva na energia elétrica não foi capaz de atenuar as fortes elevações de itens subjacentes, ampliando os riscos de que tenhamos inflação elevada por mais tempo”, avalia Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do Modal, para quem a leitura do dado corrobora a projeção de mais duas elevações de 50 pontos-base na Selic, terminando o ano em 13,75%.

Este também é o nível de taxa terminal para o qual a curva do DI se ajustou, apontando 100% de chance de aumento de 50 pontos em junho, como na segunda-feira, e entre 85% e 90% de probabilidade para a reunião de agosto (entre 10% e 15% de chance de 25 pontos). Na segunda, para o Copom de agosto, a curva indicava entre 65% e 70% de probabilidade de elevação de 25 pontos e entre 30% e 35% de chance de manutenção. Os cálculos são da Greenbay Investimentos.

O IPCA-15 vem num momento em que o mercado embarcava na ideia de apenas mais uma alta da Selic em junho, depois do diretor Bruno Serra dizer que a preferência da autoridade monetária era por menos volatilidade da Selic, sugerindo que o plano de voo seria, em vez de altas adicionais, manter a taxa num patamar elevado por um tempo maior.

Para o economista-chefe do Banco Original, Marco Antonio Caruso, é fato que o IPCA-15 não traz conforto para o BC parar de subir juros, mas, ao mesmo tempo, avalia que qualquer que for o momento escolhido para fechar o ciclo a inflação estará desconfortável porque a desaceleração será muito lenta. “Está mais com cara de platô do que de pico”, disse, sobre o acumulado o índice em 12 meses. Por isso, não alterou sua projeção de apenas mais uma alta de 50 pontos em junho e prefere esperar para ver qual será a próxima comunicação do BC. “Este fim de ciclo tem muito mais de arte do que de Excel”, opinou.

Apesar do IPCA-15, o banco JPMorgan reduziu de 9,1% para 8,7% sua estimativa de IPCA em 2022, incluindo em seu cenário-base a aprovação da proposta de teto de 17% na alíquota de ICMS sobre energia e combustíveis, cujo impacto esperado é de -0,7 ponto para a inflação no ano. O projeto do ICMS pode ser votado ainda nesta terça na Câmara e a expectativa do mercado é positiva.

Já a redução do imposto de importação para alguns produtos, anunciada na segunda-feira pelo governo, não mexeu com o mercado, dado o ceticismo sobre qualquer impacto na inflação. Para os especialistas, a medida tem caráter mais político, de resposta à escalada dos preços, do que econômico.

No exterior, o clima de aversão ao risco trazido por dados fracos de atividade nos Estados Unidos e Europa, que alimentaram o debate sobre a estagflação global, contaminou a ponta longa.