A cautela externa e com a agenda da semana penalizou puxou para cima os juros futuros em toda a extensão da curva a termo nesta segunda-feira, antes da divulgação de indicadores importantes para balizar as apostas para a política monetária. No Brasil, na terça-feira sai a ata do Copom e na sexta, o IPCA de julho. No exterior, as atenções se voltam ao índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) nos Estados Unidos, na quinta-feira.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024, o mais líquido, fechou em 12,490%, de 12,463% o ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 10,47% para 10,55%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,11%, de 10,07%, e a do DI para janeiro de 2029 avançou de 10,54% para 10,56%.

A agenda nesta segunda fraca de indicadores contrasta com o calendário expressivo ao longo da semana, o que ajudou a colocar o mercado na defensiva. Somado a isso, o exterior também não contribuiu, com o dólar em alta ante o real e inclinação na curva dos Treasuries. “A expectativa pelo CPI, que deve mostrar aceleração, deixa o investidor receoso”, afirma o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, explicando que esse sentimento pesa em especial sobre emergentes da América Latina, cujos bancos centrais já deram a largada no ciclo de ajuste em baixa de suas taxa de juros.

Ainda que o real possa estar sofrendo justamente pelo alívio da Selic, o câmbio é uma preocupação na renda fixa por causa do cenário inflacionário, num momento em que os preços de combustíveis, bastante sensíveis à variação do dólar, já estão defasados ante o exterior. Esse contexto aumenta a ansiedade com relação à ata do Copom na terça, na qual os diretores devem redobrar esforços para tentar conter o ímpeto das apostas na aceleração do ritmo de queda da Selic nas próximas reuniões.

“Há dúvida se pelo fato de Campos Neto ter ido para o lado ‘dovish’ não houve uma mudança na função-reação do BC por pressão política”, diz Rosatgno, que chama ainda atenção para o Boletim Focus, no qual o ajuste das estimativas não foi acompanhando por melhora relevante nas medianas do PIB. A mediana para o PIB de 2023 passou de 2,24% para 2,26% a de 2024 se manteve em 1,30%.

Na pesquisa, enquanto as medianas para o IPCA oscilaram marginalmente, as de Selic foram ajustadas à luz do Copom. A estimativa para o fim de 2023 caiu a 11,75%, de 12,00% na semana passada e a de 2024, de 9,25% para 9,00%. A previsão para o fim de 2025 também caiu em 0,25 ponto, de 8,75% para 8,50% e a de 2026 permaneceu em 8,50%.

Na inflação, o Focus trouxe que a expectativa para 2024, que incorpora boa parte do horizonte da política monetária do BC, passou de 3,89% para 3,88%, “em ajuste que sugere certo esgotamento do processo de melhora das projeções para o próximo ano”, afirmam Silvio Campos e João Leme, economistas da Tendências. A meta central de inflação para 2024 é de 3,0%. Para 2025 e 2026, seguem em 3,50%.