Os juros futuros fecharam a quarta-feira em queda, influenciada pela aprovação do arcabouço fiscal e pelo apetite ao risco no exterior. Além da aprovação do arcabouço em si, o mercado reagiu de forma bastante positiva aos ajustes feitos pelos deputados ao texto que veio do Senado, em especial a rejeição à inclusão de aproximadamente R$ 32 bilhões em despesas condicionadas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,405%, de 12,416% no ajuste de terça, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 10,52% para 10,44%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,21%, de 10,36% no ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2029 recuou de 10,87% para 10,72%.

Os vencimentos a partir de 2031 chegaram a perder mais de 20 pontos ante os ajustes de terça-feira, enquanto, no miolo, o DI para janeiro de 2026 na mínima do dia (9,99%) voltou a cair abaixo de dois dígitos.

Na esteira da persistente pressão da curva americana e do câmbio nos últimos dias, o mercado vinha adicionando prêmios de risco nos DIs, num movimento atribuído também à falta de avanço das pautas econômicas no Congresso. Assim, a evolução sincronizada do ambiente internacional e da agenda legislativa nesta quarta abriu espaço para uma forte correção.

“O dia seria bom de qualquer jeito, pelo exterior, mas foi o arcabouço o responsável pela magnitude da melhora tanto da curva longa quanto do câmbio”, avalia a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese.

O novo arcabouço foi aprovado por ampla margem, 379 a 64, e agora vai para a sanção presidencial. Os deputados mantiveram o Fundeb e os recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) fora do limite de gastos. Contudo, foi retirada a permissão incluída pelo Senado para que o governo pudesse prever as despesas condicionadas no Orçamento de 2024 – que dependem de aprovação de crédito adicional pelo Legislativo para serem executadas. Essa medida, que garante folga de R$ 32 bilhões, deve ser incluída no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). A Câmara rejeitou, ainda, a emenda dos senadores que deixaria despesas com ciência e tecnologia fora dos limites fiscais.

“No fim, o projeto aprovado pelo Congresso resultou melhor e mais equilibrado que a proposta original do Executivo. Agora o desafio será colocar o novo arcabouço para funcionar e produzir resultados satisfatórios”, avalia Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Wealth Management. Para viabilizar o arcabouço, acrescenta, o governo precisa de legislação que lhe permita aumentar receitas e está enfrentando muitas dificuldades. “Está claro, por exemplo, que não há clima no Congresso, pelo menos por enquanto, para aprovar a tributação de investimentos de brasileiros no exterior.”

Outro sinal de que a agenda econômica avança no Congresso foi a aprovação, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, do projeto de lei que retoma o voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), visto como importante na busca do governo pelo incremento das receitas para cumprir as metas de primário previstas no arcabouço.

No exterior, os rendimentos dos Treasuries tombaram ao longo da sessão e ainda havia fôlego para novas mínimas no fim da tarde. A taxa da T-Note de 10 anos saiu de 4,32% para 4,18% e a de 2 anos, de 5,04% para 4,95%. O ajuste foi pavimentado pelo índices de gerentes de compras (PMIs, em inglês) fracos na Europa e nos EUA.