Taxa de juros longa dispara 65 pontos após desmonte de ‘trade Tarcísio’ em eleições

A pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) à Presidência da República, com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, chacoalhou o mercado financeiro nesta tarde. Abandonando a estabilidade vista pela manhã, a curva de juros chegou a abrir 65 pontos-base nos contratos mais longos diante da exigência, por parte dos investidores, de maior prêmio de risco com a possibilidade de que o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja reeleito, sem mudanças estruturais quanto à política fiscal.

O pico do estresse – inclusive com leilão das taxas de juros para janeiro de 2029 e 2030 – veio por volta das 16h, quando o senador Flávio Bolsonaro confirmou, em publicação na rede social X, “a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”.

Para o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia, a escolha de Flávio Bolsonaro como candidato para 2026 “é uma notícia de alto impacto, que muda o jogo político e praticamente sedimenta a vitória de Lula”. Segundo ele, a nova configuração política traz a interpretação de que o próximo governo será menos reformista em 2027, tanto em termos de arcabouço fiscal quanto em orçamento público.

A escolha de Flávio para representar o bolsonarismo nas eleições de 2026 mexe com os planejamentos do Republicanos para o pleito. Com a possível saída do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), da disputa, diretórios da sigla que apoiam o presidente Lula ficam fortalecidos, apurou o Broadcast Político.

O head de renda fixa da Ville Capital, León Santiago Lucas, considera que o mercado passou a exigir um prêmio maior para financiar o governo, o que refletiu nos juros futuros. Contudo, ele pondera que a magnitude exata do prêmio de risco exigido pelo mercado não é necessariamente o pico da alta vista nesta sexta-feira, 05. “O verdadeiro tamanho desse risco eleitoral será definido nos próximos dias, à medida que o mercado digerir a notícia e começar a encontrar um novo equilíbrio para as taxas.”

Como pano de fundo, o Congresso Nacional aprovou ontem o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 com a possibilidade de que o governo mire o piso inferior da meta fiscal, mas não trouxe desconforto adicional.

Nesta sexta, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 fechou em 13,79%, de 13,544% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2029 subiu a 13,195%, de 12,643%, e o para janeiro de 2031 saltou para 13,445%, de 12,872% ontem no ajuste.