“O Brasil é extenso e as pessoas, às vezes, não entendem essa diversidade”, reflete a atriz Tássia Dhur em entrevista à IstoÉ Gente. Natural de São Luís, no Maranhão, ela conta que busca usar sua carreira como uma forma de voltar os olhos dos brasileiros para o mercado audiovisual nordestino e combater os preconceitos em relação às culturas fora do eixo Sudeste do País.
“Eu passei muito por isso no início da minha carreira. De ter que mudar até meu sotaque, mudar a forma como eu falo, para poder me encaixar em algum lugar, me sentir ali”, continua.
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A atriz também relembra um episódio de xenofobia que sofreu recentemente: “Fui gravar aqui no estúdio, aqui em São Luís. O cliente ainda não tinha chegado e a gente estava com um problema técnico, os microfones estavam todos fechados, menos o de um técnico que estava na pós-produção. Ele falou assim: ‘Também, o que esperar de São Luís e Maranhão com relação a problema técnico?'”.
“Essa não é uma mentalidade de uma pessoa isolada. É um pensamento que é geral, como se o Nordeste estivesse mais atrasado.”
Presente em famosas produções da Netflix, como “DNA do Crime” e “Serra das Almas”, a artista conta que sua paixão pela atuação e o desejo de fomentar o cenário cinematográfico a impulsionaram a fundar sua própria produtora, “Jaguatirica Filmes”.
“É um pouco também de contribuição para as pessoas que estão vindo depois, os atores, as atrizes que estão vindo depois, encontrarem mais um mercado aqui. E já está começando, a gente tem grandes festivais aqui; o ‘Guarnicê’, que é um dos festivais mais antigos do Brasil de cinema e o ‘Maranhão na Tela'”.
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Outros projetos e o futuro do cinema nacional
Diretora e escritora, Tássia irá lançar seu primeiro curta-metragem, “Mercado Central”, ainda em 2025. Um terror fantástico com forte protagonismo feminino, ideia para obra partiu do imaginário da própria artista.
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“É um multiplot, são várias histórias, e surgiu muito de como eu frequentava o Mercado Central quando criança e depois de adulta. Eu via aquelas carnes expostas e todas aquelas pessoas ali, de transeuntes, então sempre achei um ambiente rico de histórias, inclusive eu sou uma das atrizes.”
“O curta foi aprovado pela Lei Paulo Gustavo e está em processo de finalização. Eu gosto de trabalhar principalmente a força da mulher nesse encantamento do fantástico, das coisas não possíveis e que são fora da realidade.”
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Forte defensora das produções nacionais, Dhur também aproveitou para comentar que está otimista com o cenário do cinema brasileiro após as conquistas de filmes como “Ainda Estou Aqui” e “O Agente Secreto” em premiações ao redor do mundo.
“Eu sinto que com o Oscar, com o próprio ‘Agente Secreto’ em Cannes, as pessoas estão olhando mais para o cinema brasileiro e para as produções independentes. A gente começa também a produzir mais porque as pessoas começam a valorizar”, explica.
“Até então, ninguém sabia o que era um Festival de Cannes, e eu vejo que isso está mudando, as pessoas estão torcendo para o Oscar como se fosse jogo de futebol mesmo, torcendo pelo seu país.”
“Isso reverbera também nas leis, no sentido de que a ‘Ancine’ também vai olhar para isso. A gente tem Kleber Mendonça lá em Pernambuco, a gente tem Karim Aïnouz, premiado internacionalmente do Ceará e está havendo uma descentralização.”
** Estagiária sob supervisão