Tarcísio intensifica artilharia contra Lula e antecipa disputa presidencial de 2026

Governador de São Paulo aumenta troca de farpas, enquanto Planalto prega silêncio para ‘não dar palco’; chefe do Bandeirantes é o favorito pelo espólio de Bolsonaro na disputa pelo Planalto

Tarcísio de Freitas
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Faltando um ano e dois meses para as eleições de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem usado a estratégia de antecipar a troca de farpas contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para impulsionar sua candidatura. Nos últimos meses, o governador intensificou as críticas contra o petista, além de evitar agendar em conjunto com o chefe do Palácio do Planalto.

Nesta semana, por exemplo, Tarcísio subiu o tom contra Lula em um evento para o agro promovido pelo BTG Pactual. O governador paulista atrelou a alta de impostos ao governo petista e afirmou que “o Brasil não aguenta mais o PT”.

“A gente andando numa ciranda discutindo picuinha. O Brasil não aguenta mais excesso de gasto, não tolera mais aumento de imposto, o Brasil não aguenta mais corrupção. O Brasil não aguenta mais o PT, o Brasil não aguenta mais o Lula. O mundo tá de porta aberta para o Brasil, a gente já fez grandes coisas. É só trocar o piloto porque o carro é bom para caramba”, disse o chefe do Palácio dos Bandeirantes, na ocasião.

A fala gerou revolta entre os aliados de Lula, como o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), que chamou Tarcísio de “pau mandado” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Teixeira também cobrou o silêncio do chefe do Palácio dos Bandeirantes aos mortos durante à pandemia. Na época, Tarcísio era ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.

Antes, Tarcísio culpou Lula pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros. O governador ainda tentou interferir e assumir o protagonismo nas negociações com o governo americano, mas a repercussão negativa o fez recuar e ficar recluso por semanas.

Se de um lado há o investimento na troca de farpas, do outro há silêncio. Em um mês e meio, o nome de Tarcísio de Freitas não é tocado publicamente por Lula ou membros da alta cúpula do Planalto. Até em entrevistas, o petista tem evitado colocar Tarcísio como presidenciável. A última vez em que o petista criticou o governador paulista foi em visita à Favela do Moinho (leia mais abaixo), no final de junho.

A estratégia dos petistas é não dar palco para Tarcísio antes da confirmação da candidatura. Alguns interlocutores do Planalto acreditam que o governador de São Paulo não disputará ao Planalto (entenda mais abaixo) e que entrar na troca de farpas poderia mais desgastar Lula do que favorecer. A lei interna é aproveitar a boa maré política do Planalto para fortalecer a popularidade do presidente da República para as próximas eleições.

Disputa de protagonismo

Tarcísio é o favorito para assumir o espólio político de Bolsonaro, inelegível até 2030 e em prisão domiciliar após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Embora ele negue a candidatura e diga manter o foco na reeleição, o governador de São Paulo já articula com aliados as chances de concorrer ao Planalto no próximo ano.

Ele conta com o apoio do próprio Jair Bolsonaro, seu padrinho político no governo paulista, além dos principais aliados da cúpula bolsonarista. Tarcísio de Freitas também conta com certo apelo do mercado financeiro em prol de sua candidatura.

Além do chefe do Palácio dos Bandeirantes, os governadores do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), também estão na disputa pelo capital político do bolsonarismo. Outro que quer assumir esse protagonismo é o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que lançou sua pré-candidatura neste sábado, 16, em um evento em São Paulo.

Favorito entre os bolsonaristas, Tarcísio não é unanimidade no Centrão. Isso porque alguns aliados defendem que ele se mantenha no Palácio dos Bandeirantes, pela certeza da reeleição. Eles argumentam que, em uma eventual disputa presidencial, há 50% de chances para cada um dos lados, sendo o favoritismo pendente à Lula pela repercussão positiva na crise do tarifaço.

Tarcísio evita agendas com Lula

A estratégia de intensificar a troca de farpas não é a única usada por Tarcísio para impulsionar uma possível candidatura ao Planalto. O governador paulista tem evitado ao máximo agendas com Lula até mesmo em programas em que Estado e União são parceiros.

Um dos exemplos da distância é a decisão de Tarcísio de entregar imóveis do programa Casa Popular em São Bernardo do Campo (SP) no mesmo dia em que Lula visitou a Favela do Moinho, em São Paulo, alvo de desapropriação para a construção de um parque. A área era da União e destinou o local ao governo de São Paulo. Mas, durante a desapropriação, casos de violência policial e protestos de moradores foram registrados.

Na ocasião, o governo federal e o Palácio dos Bandeirantes chegaram a um acordo para a construção e compra de moradias para convencer os moradores da comunidade a deixarem o local. O investimento seria dividido, com a parcela maior do Palácio do Planalto.

Em conversa privada com a ISTOÉ, Tarcísio negou desavenças com Lula e disse que a agenda em São Bernardo do Campo já estava marcada semanas antes de receber a informação sobre a visita de Lula. A falta gerou críticas do petista, que aproveitou para alfinetar o abuso da força policial na região.

Além da Favela do Moinho, Lula e Tarcísio ainda disputam o protagonismo do túnel Santos-Guarujá, que deve ficar pronto até o final de 2026. A assinatura do convênio para a construção, em fevereiro deste ano, foi o último encontro público entre eles.

Os chefes do Planalto e do Bandeirantes disputam a paternidade da proposta, que tem investimento de R$ 5,4 bilhões divididos igualmente entre eles. Tarcísio quer usar a proposta como uma bandeira de campanha, enquanto Lula deve usar o mesmo projeto para catapultar a candidatura de Márcio França, ministro do Empreendedorismo, ao governo de São Paulo em 2026.