O governo da Tanzânia prorrogou nesta quinta-feira (30) o confinamento imposto à população na véspera, quando as eleições presidenciais geraram um caos, principalmente na principal cidade do país, Dar es Salaam.
Após as eleições de ontem, Samia Sauluhu Hassan, que sucedeu o ex-presidente John Magufuli quando este morreu, em 2021, aspira a ser eleita para o cargo. Em um primeiro momento, ela foi elogiada por ter suavizado as restrições impostas por seu antecessor, mas, agora, é acusada de exercer uma repressão dura a qualquer voz crítica ao seu governo.
Apesar de um forte dispositivo de segurança, centenas de pessoas se manifestaram ontem em Dar es Salaam, atacando colégios eleitorais e incendiando uma delegacia na capital financeira do país, que também é a cidade mais populosa da Tanzânia, com mais de 6 milhões de habitantes.
Segundo informações não verificadas, os distúrbios deixaram cerca de 30 mortos. Uma fonte diplomática considerou “incerto” o futuro da presidente Samia, que lida com a oposição de parte do Exército e de alguns aliados do seu antecessor, segundo analistas.
Um jornalista da AFP observou soldados passando tranquilamente pelos manifestantes em Dar es Salaam, o que poderia indicar um apoio implícito ao movimento de protesto. Já o comandante do Exército, Jacob Mkunda, chamou hoje os manifestantes de “criminosos”, em pronunciamento na TV pública.
Boa parte do centro financeiro de Dar es Salaam estava deserto na tarde de hoje. Havia uma presença significativa de forças de segurança, e disparos podiam ser ouvidos.
Em outras cidades do país, como Songwe (oeste) e Arusha (nordeste), também houve distúrbios. Turistas ficaram retidos em aeroportos e portos, devido ao cancelamento de voos e a um corte nas telecomunicações.
As escolas permanecerão fechadas amanhã, e o trabalho remoto foi recomendado, informou um porta-voz do governo.
– ‘Onda de terror’ –
A imprensa local, controlada, não divulgou nenhuma atualização desde a manhã de ontem, e a rede de TV nacional anunciou os resultados dos primeiros distritos eleitorais, que sugerem uma vitória esmagadora de Samia. Os números finais serão conhecidos dentro de alguns dias.
Grande parte da indignação pública é direcionada ao filho da chefe de Estado, Abdul, que dirige uma “força de intervenção informal” da polícia e dos serviços de inteligência para gerenciar a segurança durante as eleições, segundo o veículo especializado Africa Intelligence.
A força de Abdul é suspeita de um aumento dos sequestros de críticos do governo nos dias que antecederam as eleições, entre eles a influenciadora Niffer, acusada de incentivar a população a ir às ruas.
A Anistia Internacional denunciou uma “onda de terror” marcada por “desaparecimentos forçados” e “execuções extrajudiciais” antes das eleições. A ONG informou ontem que havia documentado duas mortes a partir de fotos e vídeos publicados em redes sociais, e pediu moderação às autoridades.
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