Os talibãs afirmaram nesta segunda-feira que estão dispostos a iniciar negociações de paz com o governo afegão após a conclusão da anunciada libertação de 400 prisioneiros do grupo insurgente, aprovada no domingo por uma grande assembleia de notáveis.

“Nossa posição é clara, se os prisioneiros forem libertados, estaremos prontos para discussões interafegãs na semana seguinte”, declarou à AFP o porta-voz dos talibãs, Suhail Shaheen.

Uma grande assembleia integrada por líderes afegãos aprovou no domingo a libertação de 400 prisioneiros talibãs acusados de crimes graves, o que acaba com um dos principais obstáculos para as negociações de paz neste país devastado por décadas de conflitos.

“O governo afegão iniciará em dois dias a libertação de 400 prisioneiros talibãs”, declarou à AFP o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Javid Fasial.

O porta-voz dos talibãs afirmou que a primeira fase das negociações acontecerá em Doha e que a delegação dos insurgentes será liderada por Abbas Stanekzai, principal negociador nas conversações com os Estados Unidos que precederam o acordo assinado em fevereiro.

A libertação dos talibãs era um ponto crucial do acordo histórico entre Washington e os insurgentes para uma futura retirada das tropas americanas até meados de 2021, em troca de um compromisso do grupo radical de iniciar negociações interafegãs.

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“Estamos prontos para as negociações de paz”, afirmou Abdullah Abdullah, o funcionário do governo responsável pelas conversações com os insurgentes afegãos.

“As negociações devem começar um ou dois dias após a libertação dos 400 prisioneiros”, declarou o ex-presidente Hamid Karzai (2001-2014).

O governo afegão e os talibãs se comprometeram a concretizar uma troca de presos antes das negociações.

As autoridades afegãs já libertaram quase 5.000 talibãs, mas se recusavam a autorizar a saída dos últimos 400 detentos, envolvidos em atentados graves.

A libertação do grupo foi decidida pela ‘jirga’, que reúne os idosos das tribos e outros homens proeminentes, assembleia que tem a última palavra sobre temas polêmicos.

De acordo com uma lista oficial consultada pela AFP, muitos dos 400 presos são acusados por crimes graves e mais de 150 deles foram condenados à morte.

Também estão no grupo 44 insurgentes que provocam a preocupação do governo dos Estados Unidos e de outros países por seus papéis em grandes atentados.

Entre os detentos que devem ser libertados estão os autores do atentado no hotel Intercontinental de Cabul em 2018, que matou 40 pessoas, incluindo 14 estrangeiros.

Também estão os autores do assassinato em 2003 de Bettina Goislard, uma funcionária francesa do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados.

“Esta decisão de libertá-los em meio a uma negociação é incompreensível para nossa família”, afirma um comunicado divulgado no sábado por parentes de Goislard.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu na sexta-feira a Cabul que apostasse na libertação, uma ação “impopular” para avançar rumo à paz.


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