Para eles, é apenas uma questão de tempo. Os talibãs comemoram a “derrota” dos americanos e se preparam para retomar o controle do Afeganistão e restaurar um regime extremista.

“Esses americanos arrogantes pensaram que poderiam eliminar o Talibã”, zomba o mulá Misbah, comandante dos insurgentes na província de Ghazni, devastada pelo conflito, na parte centro-leste do país.

“Mas os talibãs derrotaram os americanos e seus aliados. E se Alá quiser, um regime islâmico será estabelecido no Afeganistão quando os americanos forem embora”, disse ele à AFP, apresentando-se como o responsável pela saúde pública para os insurgentes em Ghazni.

As negociações interafegãs, que começaram em setembro no Catar, estão paralisadas. Enquanto isso, os talibãs aproveitam o movimento de retirada das forças americanas para ganhar terreno.

Desde o lançamento de uma nova fase de operações no início de maio, o grupo assumiu o controle de pelo menos 30 distritos, de cerca de 400.

O apoio aéreo dos Estados Unidos está diminuindo. E as forças afegãs lutam para abastecer os muitos postos avançados, cercados por insurgentes. Isso leva as tropas a abandonarem suas posições, especialmente nas áreas rurais.

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O Talibã tomou dois distritos de Ghazni, uma província importante situada entre duas grandes rodovias que ligam Cabul e Kandahar (sul).

Os insurgentes estão presentes em quase todas as províncias e têm várias grandes cidades cercadas.

Esta estratégia é muito preocupante, porque é a mesma adotada nos anos 1990 para controlar quase todo país e instalar seu regime, derrubado com a intervenção dos EUA em 2001.

– “Nem cinco dias” –

Muitos temem uma grande ofensiva contra as cidades após a retirada das tropas americanas e de seus aliados. Em tese, este processo termina até 11 de setembro próximo.

O governo garante que o Exército é capaz de detê-los e relembra seus pontos fracos: a falta de armas pesadas e a impossibilidade de resistir aos bombardeios afegãos.

Mas isso não preocupa o mulá Misbah.

“Quando os americanos tiverem partido, (o governo) não resistirá nem cinco dias”, garante o comandante.

Cheio de orgulho, ele mostra à AFP uma clínica capturada pelos insurgentes, onde ainda há vestígios dos combates nas paredes.

“Quando seus chefes forem derrotados, os escravos não poderão mais lutar contra o Emirado Islâmico”, diz o talibã, ao se referir ao Exército afegão.


O Ministério da Defesa não quis comentar as declarações.

Atrás das linhas de frente, o Talibã administra o dia a dia das áreas que controla.

Há dois anos, com a ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), por meio do Crescente Vermelho, o mulá Misbah dirige a clínica tomada do governo.

No centro médico, os moradores recebem tratamento e remédios. Insurgentes feridos também são tratados na instituição.

A clínica oferece formações de primeiros socorros, conduzidas por funcionários do CICV, que também treinam as forças afegãs em Ghazni, de acordo com os princípios de neutralidade da organização.

“Para que possamos ajudar os feridos no campo de batalha”, comenta um combatente.

Com suas barbas longas e fuzis, esses milicianos se misturam à população.

Todas as mulheres usam burca, uma túnica comprida que as cobre da cabeça aos pés e que tem apenas uma abertura com uma malha na altura dos olhos.

A crescente presença dos talibãs perto de Ghazni aumenta o temor de um possível ataque à capital da província.

“Os talibãs estão muito perto da cidade”, teme Ahmad Rahim, um empresário. “Não há segurança aqui”, lamenta.

A cidade continua em seu ritmo habitual, com os mercados funcionando. À noite, no entanto, a maioria das lojas fecha, e tiros e bombardeios podem ser ouvidos a distância.

“Em breve, os afegãos poderão viver felizes e livres”, promete Qari Hafizulá Hamdan, comandante dos talibãs no distrito de Qarabagh.



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