Talibã diz que não vai exigir uso de burca para mulheres

AFP
Porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid (e), na primeira coletiva de imprensa do Talibã em Cabul após tomar o Afeganistão Foto: AFP

ROMA, 17 AGO (ANSA) – Um porta-voz do grupo fundamentalista islâmico Talibã, que reassumiu o poder no Afeganistão, afirmou que as mulheres terão acesso a escolas e universidades e não precisarão usar burca na rua.

No entanto, de acordo com Suhail Shaheen, as afegãs ainda terão de utilizar o hijab, véu islâmico que deixa o rosto à mostra, ao sair de casa. “É pela segurança delas”, justificou o representante em entrevista à rede britânica Sky News.

Além disso, Shaheen ressaltou que as mulheres terão acesso a trabalhos e educação, mas “à luz da lei islâmica”. “Vamos nos empenhar pelos direitos das mulheres no âmbito da Sharia [a lei islâmica], não haverá discriminação”, reforçou outro porta-voz, Zabihullah Mujahid, em coletiva de imprensa em Cabul.

De volta ao poder 20 anos depois de ter sido destituído pela invasão americana, o grupo fundamentalista vem tentando vender uma imagem de “moderado” para facilitar seu reconhecimento pela comunidade internacional.

Em seu primeiro regime, entre 1996 e 2001, o Talibã proibia a existência de escolas mistas, o que, na prática, impedia que meninas estudassem, e obrigava mulheres a usarem burcas – vestimenta que cobre o corpo inteiro – ao sair de casa.

Desta vez, no entanto, o grupo já até prometeu anistia geral para funcionários que trabalhavam para o governo anterior e instou os servidores públicos a retornarem às suas funções.

Apesar disso, essa imagem de moderação ainda é vista com ceticismo tanto pela comunidade internacional como internamente.

“Ninguém pode me ajudar, estou aqui sentada com minha família e meu marido. E eles virão atrás de pessoas como eu e me matar”, disse ao jornal britânico “i” a prefeita mais jovem do Afeganistão, Zarifa Ghafari, de 27 anos.

Ativista pelos direitos das mulheres, ela é prefeita de Maidan Shahr desde 2019, mas agora teme retaliações do Talibã. “Estou destruída, mas não vou parar, mesmo que venham me buscar. Não tenho medo de morrer”, acrescentou. (ANSA).